Padres Doutrinários: a missão e a caridade de ensinar a Doutrina cristã
Por Gianni Valente
“A Tradição é manter o fogo, não adorar as cinzasâ€: é o que diz o sugestivo aforismo do compositor austríaco Gustav Mahler. Esta fórmula foi retomada muitas vezes pelo Papa Francisco nos últimos tempos, como narra, a seu modo, também a história da Congregação dos Sacerdotes da Doutrina Cristã, resumida, Emiliano Sinopoli, em um vídeo para a Agência Fides.
Para “manter o fogo da vida cristã†e transmiti-lo de geração em geração, a Igreja Católica também utilizou meios ordinários e simples, como o Catecismo, para expor, claramente, os conteúdos da fé apostólica.
Durante séculos, por meio do instrumento usual do Catecismo, a Igreja ajudou pequenos e grandes, santos e pecadores para chamar, com o devido nome, os elementos da vida de graça: Graça e pecado, Salvação e perdição, Caridade e Misericórdia corporal e espiritual.
Diante da realidade presente, repetir as coisas elementares da fé cristã volta a ser um ato de caridade suprema para o bem das almas. Agora que, como repetiu o Papa Francisco, “causa-me sofrimento ver tantas crianças que, ainda hoje, nem sabem nem fazer o sinal da cruzâ€.
Em vez disso, os discursos daqueles que repetem que "o catecismo é inútil e inadequado para os tempos" aparecem cada vez mais obsoletos, fora do tempo e fora do caminho. Precisamente agora que - e basicamente sempre foi e sempre será assim – se começa e se continua a caminhar na fé permanecendo sempre iniciantes, como testemunham com suas vidas miríades de Santos e Santas.
“O catecismo†repetia em uma entrevista o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena (há anos também envolvido na equipe encarregada de compilar o Catecismo da Igreja Católica, a grande síntese da doutrina católica lançada em seu primeiro rascunho em 1992) “tem mais a ver com a imagem da criança no momento em que aprende a falar com a mãe. Aprende as palavras, e as palavras são os nomes das coisas que descobre, e é tudo uma surpresa, uma novidade."
O grande filósofo francês Étienne Gilson disse que tudo o que precisava para sua vida de fé encontrava em seu catecismo. E o poeta Charles Péguy também repetia que sua fé estava toda no catecismo da Diocese de Orléans, "o catecismo de sua paróquia natal, o das crianças pequenas".
O catecismo nunca pode se tornar um pretexto para presunção e orgulho. Pelo contrário, sugere que somos sempre iniciantes na vida cristã. Em relação ao catecismo, a criança e o professor permanecem sempre no mesmo nível. Todos pequenos, diante dos mistérios da fé.
O próprio catecismo ensina que a doutrina, por si só, não salva. Não é a doutrina em si que salva almas. Naqueles que ensinam o catecismo com coração cristão, nunca se pode insinuar a pretensão de que as fórmulas da doutrina possam conter e esgotar as realidades que indicam.
São Tomás, na Summa Theologiae, esclareceu que "Fides non terminatur ad enuntiabile, sed ad rem". O ato de acreditar não se esgota na afirmação daquilo em que se acredita, mas na própria experiência do objeto da crença.
Simplesmente, também a novidade do cristianismo é comunicada por meio dos processos ordinários da vida, com o mecanismo normal com o qual se comunicam as novidades, que é o das perguntas que as crianças fazem e as respostas que recebem. Todo catequista é chamado a explicar a verdade com a maior clareza possível. E, ao mesmo tempo, reconhece e certifica que não depende dele a possibilidade de que essas verdades sejam acolhidas no coração e na mente de quem o escuta. Nos Atos dos Apóstolos é sempre o Espírito Santo quem abre as portas dos corações às palavras pregadas e ouvidas.
A aventura missionária do apostolado catequético permeia toda a história da Congregação dos Sacerdotes da Doutrina Cristã. Uma aventura eclesial que floresceu na Provença, no limiar da era moderna, a partir da experiência de César De Bas. Na segunda metade do século XVI, depois de ter voltado à vida de fé graças ao exemplo de uma costureira e de um sacristão (pessoas sem instrução, socialmente distantes dos ambientes nobres frequentados por sua família), César sentiu o impulso de promover um catecismo acessível, dirigido ao povo, que utiliza conceitos simples, parábolas, símiles, ilustrações para comunicar a todos e segundo as diversas possibilidades de acolhimento os conteúdos do catecismo "ad parochos", a síntese doutrinal preparada para os sacerdotes, frutos do Concílio de Trento.
A história de César de Bas e da Congregação sacerdotal por ele iniciada é marcada por incompreensões, dificuldades, experiências de perseguições. Após a Revolução Francesa, quatro padres doutrinários se recusam a aderir à constituição civil do Clero e são martirizados.
Irrigada também pelo sangue dos mártires, a experiência espiritual dos padres doutrinários continua caminhando na história. Impressionado com a originalidade de seu estilo catequético, Paulo VI proclamou Beato o padre César no dia 27 de abril do ano santo de 1975, apontando-o para a Igreja como modelo para os catequistas. O Papa Francisco o proclamou Santo em 15 de maio de 2022.
Hoje, os padres doutrinários estão presentes na França, Itália, Brasil, Índia e Burundi, e pedem todos os dias "que tudo em nós catequize", como afirma um de seus lemas.
Ainda hoje, trabalhando em países tão distantes e diversos, os sacerdotes da Congregação para a Doutrina Cristã compartilham em todos os lugares o desejo de tornar um catecismo acessível a todos, para que todos possam encontrar o Senhor da maneira mais simples possível. Seu horizonte continua a ser definido pela resolução relatada em seu lema: "In doctrinis glorificate Dominum".
*Agência Fides
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