Dimens?o divina e pneumatol¨®gica da Lumen Gentium
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
O Espírito divino que agia em Jesus fazia dele, por meio de suas palavras e ações, sinal e instrumento ativo da Palavra de Deus, fundamento da salvação. O Espírito divino que agia em Jesus, depois da sua morte e ressurreição foi enviado sobre a Igreja, chamando-a a tornar presente e eficaz a ação salvífica de Deus. Salvação que Deus continua a realizar por meio do Senhor ressuscitado, no poder do mesmo Espírito de Jesus, por meio de nós, pecadores, chamando-nos a ser membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Assim, a Igreja é chamada a ser sacramento (sinal e instrumento) de comunhão com Deus, sal da terra e luz do mundo.
Dando sequência a sua série de reflexões sobre o Concílio Vaticano II, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a "Dimensão divina e pneumatológica da Lumen Gentium":
"A perspectiva pneumatológica também está presente na , ou seja, a Igreja sendo conduzida pelo Espírito Santo. É Deus quem age, que conduz a Sua Igreja. A Igreja, a partir da Lumen Gentium, não se pode pensar sem Jesus Cristo e sem o Espírito Santo, como condição fundamental para ela produzir frutos. O número 4 retrata muito bem essa consciência, porque a entende como a última determinação da Igreja. A Igreja não existe por si mesma, mas deve ser o instrumento de Deus, para reunir todas as pessoas nele e preparar o momento em que ¡°Deus será tudo em todos¡± (cf. 1Cor 15,28).
O esquecimento disso converterá a Igreja em mera luta pelo poder e simples oposição de grupos internos, como demonstra o período posterior ao Concílio, pela valorização unilateral da imagem bíblica de Povo de Deus, de acordo com o Relatio Finalis do Sínodo de 1985[2].
Essa consciência, de não ser simplesmente uma associação ou agremiação humana, gera duas consequências. Uma, a superação de uma eclesiologia jurídica; e a outra, a consciência de uma nova relação com o Reino de Deus e com o mundo.
Sem dúvida alguma, a Lumen Gentium significa a superação de uma eclesiologia jurídica. Essa mudança de perspectiva faz com que a Igreja deixe de ser vista horizontalmente e a partir de si mesma, para ser compreendida verticalmente,
isto é, a partir de Deus e de sua presença nela. Como consequência, ela é o instrumento de Deus no mundo e tem a missão de proclamar a Boa-Nova do Reino de Deus. O que não significa afastamento do mundo, mas o assentamento de sua missão no essencial.
Papa Paulo VI define claramente a essência da Igreja na evangelização, as suas origens, passando pelos séculos de sua história, a evangelização é o que a Igreja tem de mais íntimo. Está bem evidente isso na , relembrado também no documento atual do Papa Francisco . Não precisamos ir em busca de uma identidade. Ela existe deste a Igreja primitiva. A recepção da eclesiologia do Vaticano II, feita pelo Sínodo Extraordinário dos Bispos, de 1985, destacou a eclesiologia de comunhão. Pode-se afirmar que a comunhão não tem um lugar central no Magistério do Vaticano II, contudo, a ideia da comunhão pode servir como síntese dos elementos essenciais da eclesiologia conciliar. Como lemos no texto da primeira carta de João: ¡°O que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos, para que estejais também em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo. E isto vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa¡± (1Jo 1,3-4). A comunhão tem como ponto de partida o encontro com o Filho de Deus, Jesus Cristo, que chega às pessoas pelo anúncio da Igreja. Assim acontece a comunhão com Deus e com a humanidade. O encontro com Cristo cria a comunhão com ele e, portanto, com o Pai no Espírito Santo, e a partir daí une as pessoas entre si. Assim, a palavra comunhão tem um caráter teológico, cristológico, histórico salvífico e eclesiológico, adquirindo uma dimensão sacramental, expressa pelo conceito da Igreja como sacramento de salvação."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1]. V. CODINA, Creio no Espírito Santo .Pneumatologia narrativa, Paulinas, S. Paulo, 1997, 55.
[2] Cf. SÍNODO DE 1985, Relatio Finalis II, A 3.
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