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Relacionamentos digitais s?o tema de pesquisa de jesu¨ªta brasileiro Relacionamentos digitais s?o tema de pesquisa de jesu¨ªta brasileiro

Existe amor nos aplicativos de relacionamento?

A Revista Italiana La Civilt¨¤ Cattolica, no seu mais recente n¨²mero, acaba de publicar um artigo sobre o amor nos tempos de aplicativos de relacionamento. O texto repercutiu atrav¨¦s de coment¨¢rios em jornais da It¨¢lia como Il Messaggero. Apresentamos, aqui, trechos do artigo que ¨¦ assinado pelo Padre Jesu¨ªta Bruno Franguelli, mestre em Ci¨ºncias Sociais e Comunica??o pela Pontif¨ªcia Universidade Gregoriana. A autor ¨¦ pesquisador na ¨¢rea de relacionamentos digitais e a antropologia crist? do amor.

O impacto da cultura digital nos relacionamentos humanos

O ¡°mundo¡±, hoje, encontra-se nas ma?os de todo aquele que carrega consigo um aparelho chamado smartphone conectado a um servic?o de internet. A cultura digital trouxe muitas surpresas e a sua importa?ncia no dia a dia das pessoas e? indiscuti?vel. Ale?m disso, ela na?o parece ser uma moda e sua influe?ncia apresenta-se irreversi?vel. Em relac?a?o aos relacionamentos humanos, estes sofreram um grande impacto. As modalidades de encontros tambe?m foram alteradas. Grac?as ao GPS, os aplicativos de relacionamento podem mostrar qua?o pro?ximo algue?m esta? de parceiros em potencial. Por isso, tanto a facilidade do seu funcionamento como os servic?os constantemente atualizados os tornaram muito populares, principalmente entre os mais jovens.

A histo?ria das buscas afetivas atrave?s de uma mi?dia remonta o se?culo XVIII com os anu?ncios casamenteiros e tornou-se um nego?cio lucrativo para os jornais. Nos anos de 80 e 90, antes da aparic?a?o dos websites de relacionamentos nos Estados Unidos, os solteiros frequentemente utilizavam as pa?ginas dos jornais denominadas ¡°classificados¡± para conhecer novas pessoas. Neste sentido, os aplicativos de relacionamento nasceram dentro de uma cultura de busca de parceiros(as) online ja? existentes desde o ini?cio da Internet.

A Fratelli Tutti e as relações digitais

A Enci?clica Fratelli Tutti, embora na?o tenha por objeto principal o tema da cultura digital, esta dedica alguns pontos de reflexa?o que podem contribuir para oferecer uma contribuic?a?o no que diz respeito a? realidade do jogos afetivos e a lo?gica de mercado presente no uso dos aplicativos de relacionamento. Um dos paradigmas apresentados pela Fratelli Tutti diz respeito a?s iluso?es existentes dentro do universo das redes sociais e plataformas digitais, e que esta dificilmente oferece espac?o para a intimidade e para a socializac?a?o. De modo particular, o documento fala da perda dos ritos de encontros comunicativos como o sile?ncio e a escuta. A compreensa?o desta falta pode ser explicitada, de modo particular com o funcionamento das relac?o?es digitais que diz respeito aos cliques e mensagens ra?pidas e ansiosas. E tal realidade pode colocar em perigo a estrutura ba?sica de uma comunicac?a?o humana sa?bia.

Novos ritos de amor?

Os aplicativos de relacionamento conseguira?o digitalizar a ritualidade do amor? Podemos denominar nosso tempo como a e?poca dos ritos tristes? Neste sentido, parece ser urgente uma ¡°liturgia¡±, isto e?, uma gestualidade que seja emissora de uma mensagem que supere a fluidez da nossa e?poca.

Em nossa época predomina o estado de ¡°analfabetismo amoroso e ero?tico¡± e nesta os aplicativos de relacionamento representam uma promoc?a?o de um perene estado de adolesce?ncia que anula as expresso?es fi?sicos/afetivas como e embarac?o e a inibic?a?o, pro?prias da ritualidade do encontro amoroso, e permite trafegar pelo estado infantil do eros. Ale?m disso, os aplicativos de relacionnamento podem funcionar como ladro?es de imaginac?a?o que podem profanar a nossa capacidade de imaginar e sonhar com o outro: «Achamos que vemos tudo - uma pessoa, isto e?, uma pessoa - mas enta?o a levamos ta?o rapidamente para as regio?es inferiores como se fosse um par de sapatos».

Existe amor nos aplicativos de relacionamento?

Os aplicativos de relacionamento obedecem, de modo especial, a? uma lo?gica: a lo?gica do mercado. Lo?gica esta que estabelece regras como em um jogo que, como vimos compo?em um mercado afetivo marcado pela competic?a?o e por ¡°relacionamentos fracos¡±. Sustentamos que isso se da? pela pro?pria lo?gica mercantil dos aplicativos de relacionamento, que e? delineado pela lo?gica do desejo, na?o do amor.

O amor, dentro da antropologia crista?, como afirmou o Papa Bento XVI em sua Encíclica Deus Caritas Est, 6, não se da? no jogo infantil e mercantil dominada pela exclusividade ero?tica, mas na experie?ncia que se torna «descoberta do outro, superando assim o cara?ter egoi?sta que antes claramente prevalecia. Agora o amor torna-se cuidado do outro e pelo outro. Ja? na?o se busca a si pro?prio, na?o busca a imersa?o no inebriamento da felicidade; procura, ao inve?s, o bem do amado: torna-se renu?ncia, esta? disposto ao sacrifi?cio, antes procura-o».

A nossa tese e? que os relacionamentos duradouros que se da?o por meio dos dating apps somente existem porque seus usua?rios abandonaram o uso dos aplicativos e, consequentemente, a sua lo?gica mercantil. Pois «os aplicativos de relacionamento tendem a transformar as relac?o?es sentimentais em um jogo baseado na lo?gica consumista. E disso, seus usua?rios sa?o bem conscientes.»23 Do contra?rio, se na?o abandonam os aplicativos de relacionamento e sua lo?gica, seus usua?rios tendem a continuar atuando como ¡°no?mades afetivos¡± e consumidores viciados nos jogos afetivos oferecidos pelo mecanismo do menu sempre atualizado com novos perfis. Neste sentido, permanece a pergunta se os aplicativos de relacionamento sa?o, de fato, meios ideais para construir relacionamentos esta?veis e duradouros.

O texto completo está disponível em espanhol

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18 fevereiro 2023, 08:28