Schevchuk: querido pai Bento, memória eterna para você!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Queridos irmãos e irmãs em Cristo, hoje é quinta-feira, 5 de janeiro de 2023, e na Ucrânia já estamos no 316º dia da grande guerra em vasta escala que o invasor russo trouxe para nossa pacífica terra.
Ontem também foi um dia difícil de confronto militar. Toda a linha de frente está em chamas. A cidade de Bakhmut, na região de Donetsk, está se tornando cada vez mais um símbolo da resiliência, coragem e invencibilidade ucraniana. De acordo com os relatórios de ontem, cerca de 60 por cento desta cidade já foi completamente destruída. Mas naquela cidade ainda vivem civis, e há batalhas pesadas e sangrentas acontecendo. Os heróis ucranianos se defendem bravamente. Combates pesados estão acontecendo ao longo de toda a linha de frente. O inimigo está novamente bombardeando nossa infraestrutura crítica: nossa província de Nikopol na região de Dnipropetrovsk foi danificada. Ontem, em apenas um dia, tivemos pelo menos 5 mortes de civis em diferentes partes da Ucrânia. Ontem, apenas na região de Kherson, o invasor russo matou quatro pessoas e feriu outras cinco.
Mas a Ucrânia resiste! A Ucrânia luta! A Ucrânia reza!
Passo a passo, junto com nossos irmãos ortodoxos, estamos nos aproximando da festa do Natal. Hoje estamos vivendo mais um dia antes do Natal, porque amanhã é a vigília.
Ano após ano, ao ouvirmos a narração do Evangelho sobre a Natividade de Cristo, começamos a compreender que esta narração nada mais é do que uma representação simbólica da verdade de Deus sobre o homem e a ordem das coisas no mundo. É uma história sobre valores verdadeiros, sobre o que realmente importa. Jesus nascido vem ao mundo como um sério desafio. Como há 2.000 anos, também hoje se apresenta em meio aos acontecimentos, em situações sem saída, nas contradições da vida, em meio à guerra, à ocupação e à luta de partidos políticos, em meio à obstinação e à arrogância de líderes religiosos. Embora sua chegada era muito esperada e tenha sidoprevista há tempos, estranhamente seu nascimento acaba sendo inesperado. Parece pegar todos nós de surpresa.
É ingênuo pensar que a noite da vinda do Filho de Deus ao mundo tenha sido mais favorável ou mais serena do que hoje. Felizmente, a qualidade da história humana não é determinada pelas circunstâncias, mas pelas pessoas, por aquelas pessoas que estão dispostas a ver e encontrar o Senhor no meio daquelas circunstâncias: o Senhor, o Senhor da história. Os pastores, segundo a narração do Evangelho, foram os primeiros a realizar esta missão. A majestosa notícia celeste apanha-os no momento de seu habitual trabalho cotidiano. Eles protegem seus rebanhos, cuidam de suas ovelhas, mesmo à noite. Eram gente simples e sem instrução, gente comum, mas não dormiam: estavam vigilantes, alegres e dedicados ao seu trabalho. É provavelmente por isso que eles mostraram uma rapidez e determinação impressionantes, porque à voz do anjo eles imediatamente pegaram a estrada, apressaram-se para Belém ao comando deste mensageiro celestial. Em um momento em que Herodes, como governante, convoca todos os possíveis conselheiros competentes: sumos sacerdotes, escribas, para preservar seu poder; Herodes, que treme com o possível nascimento de um concorrente; são eles, os pastores, que agem espontaneamente, segundo o chamado do coração, e cumprem a missão que o anjo lhes deu. É por isso que eles veem o que os outros não notam. Eles veem o que os outros perderam na agitação da vida. Cristo nasce entre os pobres de espírito, mas puros de coração. Então ele dirá aos seus discípulos: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus".
Existe um abismo entre pessoas humildes, simples, que são abertas aos milagres, e as pessoas poderosas, mas espiritualmente pobres, que confiam apenas em seu poder e força. No entanto, Cristo nasce tanto para esses como para os outros, preenchendo consigo este vazio.
Nos últimos tempos temos sido repetidamente, e continuamos a ser testemunhas ainda hoje, sobretudo dos feitos das pessoas comuns. Com sorrisos em seus rostos, eles revelam uma determinação admirável, coragem e abnegação. Aqueles que em tempos de paz nunca nos chamam a atenção, durante a tragédia da guerra revelam-se verdadeiros heróis. Graças a eles, a maior parte de nós hoje, durante as comemorações, poderá sentar-se à mesa e desfrutar do ambiente familiar enquanto eles estão lá, no front, defendendo com o próprio corpo o nosso Natal e o nascimento de nosso Deus no meio de nós.
Mas também aqueles que consideram a si mesmos, o próprio poder e dinheiro como a medida das coisas e da ordem no mundo, não desapareceram no nada. Eles continuam acreditando até hoje que controlam a história e traçam seu curso. São eles, em algum lugar nas postações militares no território da Rússia, que pensam que, ao planejar uma guerra, estão escrevendo a história, estão criando um novo mundo e um novo tempo. Eles fazem isso principalmente com o sangue dos inocentes. Esses potentados, que estão escrevendo sua vergonhosa história com o sangue de inocentes, gostariam que Cristo não nascesse. Bem, se já nasceu, então deve ser destruído, sem mostrá-lo. E como não podem reconhecê-lo, exterminam todos os que são como ele. Não é à toa que, após o nascimento de Cristo, Herodes manda todas as crianças de uma certa idade para serem mortas em Belém. E tudo isso isso por motivos de confiabilidade e eficiência do resultado.
Vemos algo semelhante hoje em Donbass: os assassinos de hoje estabelecem objetivos políticos que desejam alcançar por meios militares. E por isso matam a todos: tanto o seu próprio povo como o dos outros. Eles não acham necessário ir a Cristo, o Cristo recém-nascido, porque estão convencidos de que estão no controle da situação e têm todos os recursos necessários para isso. Sempre haverá essas pessoas e ninguém as convencerá a fazer o contrário. A única esperança é Deus que nasceu: fraco, pequeno, perseguido, pobre. Nasceu no mundo dos homens para uni-los acima de qualquer barreira, para se tornar um ponto de interseção de todos os vetores da história.
Assim, a Natividade de Cristo é o ápice, a coroa, o centro de toda a história da humanidade. E neste dia, naquela intersecção de todas as linhas da história, concentra-se o conteúdo de todo o Evangelho, daquela Boa Nova, o conteúdo da fé cristã. Mas cada um de nós - com a sua escolha pessoal e a espontaneidade dos pastores - deve hoje correr a Cristo nascido em Belém para acolher o Senhor da nossa história e dizer uns aos outros: "Cristo nasceu"!
Hoje toda a Igreja ecumênica, todo o mundo cristão saúda o Papa Bento. Hoje, no Vaticano, é realizado o serviço fúnebre. Hoje nossa Igreja também se une a esta dor universal e agradece ao Senhor Deus pelo dom e serviço desta grande testemunha da fé cristã e pregador da Natividade de Cristo no mundo moderno.
A figura do Papa Bento é a figura do maior intelectual do nosso tempo nascido na Igreja Cristã. É a figura de alguém que, com o seu gênio científico, como João o Teólogo, pode subir ao céu com o seu pensamento, e com a sua humildade descer à realidade do testemunho cristão entre as pessoas comuns. Hoje agradecemos ao Senhor Deus por ele, como aquele que ensinou que a verdade objetiva é a existência de Cristo. Aquele que, depois da sua eleição na Basílica de Latrão, anunciou ao mundo inteiro que Cristo é o Senhor.
Hoje saudamos o Papa que foi um pai especial da juventude, teve uma grande confiança nos jovens, teve a coragem de confirmar a escolha do Sínodo que elegeu o bispo mais jovem entre eles como chefe da Igreja. E quando o encontramos pela primeira vez depois do sínodo eleitoral, ele nos saudou a todos, e quando os ucranianos começaram a cantar “Mnohaya lita (Muitos anos de vida)” na Praça de São Pedro, o Papa se levantou e ficou em pé. Ele ressuscitou no respeito pela Igreja martirizada que começava a brilhar em todo o mundo. Hoje rezamos pelo repouso de sua alma e dizemos a ele: nosso querido pai, nosso querido pai Bento, memória eterna para você!
Que a bênção do Senhor esteja sobre vocês por meio de Sua graça e amor pela humanidade, agora e para todo e sempre, amém!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Svyatoslav+
Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
05.01.2023
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