Cardeal Gracias: 'Ratzinger foi um grande apoio para as Igrejas da ?sia'
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"A morte de Bento XVI é uma perda muito grande para a Igreja universal, mas também uma perda específica para as Igrejas asiáticas". Com essas palavras, de Mumbai, o cardeal Owslad Gracias, arcebispo da metrópole indiana e representante do continente no Conselho de Cardeais, comenta para AsiaNews a morte do Papa emérito aos 95 anos de idade.
"Bento XVI foi um grande apoio para a Igreja na Ásia e para a Igreja indiana em particular ¨C continua o cardeal Gracias. Ele prestou atenção especial à Índia e sempre esteve muito próximo de mim. Foi ele quem me nomeou arcebispo e cardeal. Ele era um amigo pessoal: mesmo quando eu não estava bem, ele estava constantemente em contato comigo e me enviava mensagens que me asseguravam suas orações".
Como Paulo VI, levou a cumprimento o Concílio Vaticano II
"Como Paulo VI, Bento XVI levou a cumprimento o Concílio Vaticano II - acrescenta o arcebispo de Mumbai. Como cardeal e depois como Pontífice completou o que o Papa João Paulo II havia semeado e pensou a Igreja sobre a dedicação, sobre a evangelização, sobre o ecumenismo".
"A história julgará sua contribuição para o progresso da teologia de forma muito favorável. Seus livros sobre a vida de Cristo são muito esclarecedores. É impressionante a variedade de temas que ele abordou e a profundidade de sua compreensão das Escrituras. Seus livros sobre a liturgia também são valiosos".
"Eu o sinto quase como uma perda pessoal - comenta Gracias. Nos últimos tempos, eu não tinha conseguido vê-lo por causa de sua saúde, mas eu sempre continuei a lhe enviar mensagens. E fiquei emocionado quando na última Páscoa ele me respondeu dizendo que me enviaria seus livros. Ele era um homem muito gentil".
Testemunho de dom Felix Machado
Da Índia, também o secretário da Conferência episcopal do país asiático e ex-subsecretário do Pontifício Conselho para o Diálogo Interreligioso, dom Felix Machado, compartilha suas recordações de Bento XVI com a agência católica AsiaNews.
"Quando fui chamado a Roma não estava muito entusiasmado, aceitei por obediência" - recorda dom Machado -, mas de dentro da Cúria Romana descobri que também havia pastores santos como o então cardeal Ratzinger. Passei muitas vezes por ele na Praça São Pedro a caminho do meu escritório: ele começou a perguntar por mim. Mais tarde, minha responsabilidade me colocou em contato mais próximo com o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé".
"Eu tinha ouvido falar dele através do cardeal Yves Marie Congar, que foi meu professor em Paris, e através de Raimon Panikkar, que foi meu moderador de doutorado. Quando comecei a ler seus livros, eu me apaixonei por sua teologia. A mídia fazia dele um 'cão de guarda' da ortodoxia, como se ele fiscalizasse o pensamento dos teólogos no mundo inteiro. Eu mesmo comecei a acreditar nisso, até que o conheci pessoalmente".
Discurso em Regensburg, na Alemanha
Do Pontificado do Papa Bento XVI, dom Machado tem uma lembrança pessoal do momento muito delicado que se seguiu ao discurso de Regensburg, com as polêmicas sobre a citação da relação entre religião e violência que provocou uma reação violenta em parte do mundo islâmico.
"Sua mensagem nada teve a ver com culpar alguma religião - lembra dom Machado. Todas as religiões foram culpadas, em um momento ou outro, de sucumbir à violência, e mais ainda em nome de Deus".
O significado das palavras do Papa alemão
Naqueles dias tensos, foi precisamente o prelado indiano que apareceu na televisão para esclarecer o significado das palavras do Papa. "No seu retorno da Alemanha - conta o prelado -, ele me agradeceu por esclarecer o ponto".
"Minha mensagem era simples: o Papa Bento XVI nunca foi contra o diálogo com as religiões. Como teólogo, ele adentrava nas nuances e ensinava a entrar em autêntico diálogo como a Igreja ensina, sobretudo no Concílio Vaticano II. Ele só corrigiu o que considerava um abuso do diálogo".
Último encontro
"Eu o encontrei pela última vez antes da pandemia, no mosteiro onde ele vivia - conclui dom Machado. Ele estava frágil. Caminhamos juntos no jardim, em frente ao mosteiro. Ele perguntou sobre meu ministério, me perguntou se eu continuava promovendo o diálogo com as outras religiões. Sempre me senti humilde diante de um homem de tão profundo amor a Deus, de tão aguçada inteligência e de uma vida tão humilde e simples".
(com AsiaNews)
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