Campos dos Goytacazes: preservada tradição de três séculos
Ricardo Gomes – Diocese de Campos
De 6 a 15 de janeiro todos os caminhos levam ao distrito de Santo Amaro, uma comunidade no meio rural de Campos dos Goytacazes (RJ). A tradição de 290 anos preservada com missas, procissão e a cavalhada, um espetáculo de fé e cultura. Um caminho iniciado pelos Monges Beneditinos desde 1733 com a construção da capela primitiva. Uma devoção que se espalhou por todo o Brasil. A Festa faz parte do Calendário de Turismo Religioso do Estado do Rio de Janeiro.
Nascido no distrito Jorge Bento Neves Pereira recorda a devoção e agradece a Santo Amaro pela sua vida e da família. Casado com a assistente social Ana Lúcia Telhado Pereira fala de um tempo que viveu em Niterói, mas nunca deixou de estar na festa para rever amigos e familiares.
Testemunho de fé do diácono Adelino Bacelos Filho, batizado na Igreja de Santo Amaro com apenas 2 anos e relata graças alcançadas na sua vida. A aprovação na Escola Técnica Federal foi uma das conquistas atribuída ao santo e a devoção que permanece.
“Com um ano e 2 dias de vida fui batizado, em 16 de Abril de 1960, na Igreja de Santo Amaro. Desta maneira, desde pequeno dedico Amor e devoção à Santo Amaro; até hoje, sempre que posso vou lá, para lembrar ou recordar o local onde recebi o Batismo. Das inúmeras graças recebidas vou relatar ou testemunhar apenas uma simples, que produz frutos até hoje: quando estava como aluno da Escola Técnica Federal de Campos, atualmente IFF, apesar dos esforços meus e dos meus pais, aulas particulares, na disciplina de Matemática, as dificuldades eram muitas; recorri portanto, a intercessão de Santo Amaro e prometi fazer, como voto, a caminhada ou peregrinação da Escola Técnica até a igreja dedicada a ele, a pé (em torno de 48 Km); cumpri o voto, pois ao término do Curso Técnico, eu estava no grupo dos melhores alunos em 1977 e pude ao longo da minha caminhada vocacional contribuir com inúmeros jovens e adultos, com dificuldades em matemática, nas suas respectivas Escolas e para Concursosâ€, conta Adelino.
Histórias de fé de moradores que agradecem a Santo Amaro por graças recebidas. Robson Pereira recorda as lições da avó Maria Antônia Branco Pereira, catequista por décadas e que transmitiu a fé para o pai, Bonifácio Branco Pereira e agora partilha com os filhos a herança de fé e devoção da família. O avô Ponciano Pereira foi linguista e presidente da Liga Católica Jesus Maria e São José por décadas.
Maria Carla Cordeiro Rangel Neves recorda a devoção e a gratidão em sua família. Casada com José Luciano Neves do Nascimento sempre teve uma participação na igreja de Santo Amaro e relata inúmeras graças que tem alcançado.
“Nossa história com a intercessão de Santo Amaro começa pelos nossos bisavós, avós e pais. Fomos batizados, fizemos primeira Eucaristia, nos casamos em 1984 também sobre as bênçãos de Santo Amaro. Santo Amaro é um Santo muito presente em nossas vidas em todos os momentos, de alegria, de tristeza, momentos de angústia e desespero ele sempre nos ampara com sua intercessão a Deus. Uma história linda e com muita devoção e gratidão. Meu neto João Miguel se tornou coroinha da igreja aos 6 anos de idade por vontade própria, um chamado direto de Santo Amaro a sua vidaâ€, recorda Carla.
Santo é exemplo de obediência
Santo Amaro, juntamente com São Plácido, foi um dos primeiros discípulos de São Bento ainda em Subiaco. Entregue pelo pai Etiquio, um nobre romano, a São Bento para ser educado na fé se destacou pela obediência. A ele é atribuído o primeiro milagre de andar a pé enxuto sobre as águas para salvar Plácido que se afogava num lago onde foi buscar água. Obedecendo a São Bento só percebeu que caminhava sobre as ´águas ao retornar a São Bento.
O dia 15 de janeiro é o dia de sua morte, em idade avançada na França onde fundou um mosteiro se tornando o primeiro abade. Sua devoção se espelhou por toda região e invocado em casos difíceis que podem ser conhecidos nos registros na Sala das Promessas na igreja na Baixada Campista e pelos milhares de peregrinos.
â€œÉ uma alegria poder colher estes frutos depois de 290 anos de espiritualidade beneditina com Santo Amaro conhecido como santo da obediência. Os primeiros monges que trabalharam na evangelização dessas terras campistas trouxeram esse santo precioso que nos ensina que para ser cristão de verdade é preciso a virtude da obediência à Palavra de Deus, dentro de uma comunhão, e dentro da hierarquia da igreja. Para colhermos estes frutos produzidos nas famílias, nas pessoas, nos cristãos e na vida religiosa dessa região como frutos de santidade e de evangelização que enraizou o Evangelho nestas terrasâ€, afirma dom Inácio Maria da Veiga – Prior do Mosteiro de São Bento – Campos dos Goytacazes.
Fotos: Maykon Carvalho e Vitor Gonçalves
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