Grandes desafios de Paulo VI
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Foi em um encontro com os párocos de Roma na Basílica São João de Latrão, em 15 de fevereiro de 2018, que o Papa Francisco havia anunciado que Paulo VI, o ¡®grande Papa¡¯ e ¡®incansável apóstolo¡¯, seria canonizado até o final daquele mesmo ano.
Mas antes ainda, na Missa de encerramento do Sínodo Extraordinário sobre a Família em 19 de outubro de 2014, em que Paulo VI foi beatificado, o Papa havia recordado em sua que enquanto se perfilava uma sociedade secularizada e hostil, o Papa Montini "soube reger com clarividente sabedoria ¨C e às vezes em solidão ¨C o timão da barca de Pedro, sem nunca perder a alegria e a confiança no Senhor¡±.
¡°Verdadeiramente Paulo VI - acrescentou Francisco - soube «dar a Deus o que é de Deus», dedicando toda a sua vida a este «dever sacro, solene e gravíssimo: continuar no tempo e dilatar sobre a terra a missão de Cristo» (, Insegnamenti, I, (1963), 26), amando a Igreja e guiando-a para ser «ao mesmo tempo mãe amorosa de todos os homens e medianeira de salvação» (, prólogo).
Dando continuidade a sua série de reflexões dedicadas aos 60° aniversário do Concílio Vaticano II, padre Gerson Schmidt* nos fala hoje sobre os grandes desafios de Paulo VI:
"Muitos foram os desafios do Papa Paulo VI na implantação, concretização da atualização proposta pelo Concílio Vaticano II. Nada fácil, o sucessor dos apóstolos dirigir a barca de Pedro em águas tempestuosas, em época de mudanças e ventos contrários de um mundo moderno que procurava respostas para a grande crise da humanidade após duas grandes guerras mundiais. Apesar das sombras, Paulo VI não se intimidou. São Paulo VI publicou a recorda o Apóstolo das gentes: ¡°Estou cheio de consolação, estou inundado de alegria no meio de todas as tribulações¡± (7,3-4). Apesar das intempéries da vida, o verdadeiro discípulo de Cristo jamais perde a esperança, pois está inundado da alegria que brota do Senhor, como dom do Espírito Santo.
Mergulhados nos vendavais do mundo, surge uma pergunta comum e interessante: mas, afinal, que tipo de alegria é a cristã? ¨C Responde, então, Paulo VI, citando São Tomás de Aquino, que a expressão mais elevada da alegria ou da felicidade é aquela entendida no sentido estrito da palavra, ¡°quando o homem, ao nível de suas faculdades superiores, encontra a sua satisfação na posse de um bem conhecido e amado. Assim, o homem experimenta a alegria quando se encontra em harmonia com a natureza, e, sobretudo, no encontro, na partilha, na comunhão com o outro. Com muito mais razão, pois, chegará ele a conhecer a alegria e a felicidade espiritual quando o seu espírito entra na posse de Deus, conhecido e amado como o bem supremo e imutável¡± (Summa Theologica, I-II, q.31,a 3).
No entanto, novamente, pode haver quem tente contradizer o Papa Paulo VI dizendo que, neste mundo finito e dilacerado por discórdias, é praticamente impossível encontrar a felicidade. É por essa razão que, mergulhado no materialismo, o ser humano dos séculos XX e XXI se sente impotente ante os males, especialmente os de ordem moral que os acomete, pois os recursos de natureza material de que dispõe são ineficientes para a batalha. Mais: se essa angústia é grande, há ainda outro agravante que o Papa, já em 1975, denunciou: são alguns meios de comunicação de massa que ¡°acabrunham as consciências, sem lhes apresentar, normalmente, uma solução humana adequada¡±.
Contudo, apesar dos não poucos e nem pequenos desafios, Paulo VI nos convida a olharmos maravilhados, desde a nossa infância até a velhice, para tudo o que Deus fez e sentirmos a serena alegria que só Ele pode nos dar como um dom do Espírito Santo, conforme se lê em Gálatas 5,22, que diz que entre os frutos do Espírito está o amor, a alegria, a paz, a bondade, a mansidão, a fidelidade. E acrescenta que ¡°o homem só poderá experimentar a verdadeira alegria espiritual quando se afastar do pecado e viver na presença de Deus. A carne e o sangue são, sem dúvida, incapazes disso (cf. Mt 16,17). Mas a revelação pode abrir esta perspectiva e a graça pode operar esta conversão¡± no coração humano, às vezes petrificado pelo pecado, por meio do sacramento da Penitência."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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