Eduardo Brasileiro: Economia de Francisco e Clara, “uma resposta a partir dos territórios”
Padre Modino - CELAM
Un encontro que desperta uma grande ansiedade entre os participantes. O Encontro da Economia de Francisco que se realiza em Assis de 22 a 24 de setembro, com dois anos de demora em consequência da pandemia da Covid-19, passou de ser um evento, marcado por um encontro dos jovens com o Papa Francisco, a ser um processo global, onde uma comunidade global quer se empenhar na mudança do modelo económico vigente no mundo inteiro.
No Brasil, segundo relata Eduardo Brasileiro, um dos cem jovens brasileiros que participarão do encontro em Assis, a grande diferença está no fato de que junto com Francisco entrou Clara, e com ela se fez presente “a perspectiva das periferias, das mulheres, de tudo aquilo que é excluído da lógica do capitalismo”.
Segundo Brasileiro, a Economia de Francisco e Clara se tornou no país um movimento social, um espaço de denúncia, um lugar onde fazer propostas de uma outra organização do Estado, onde se fazem presentes políticas públicas, dinâmicas culturais, fazendo aparecer expressões que hoje são apagadas.
Um Encontro que é uma oportunidade para conhecer as experiencias de resistência em outros países, em outros continentes, em outras realidades culturais, descobrindo outros modelos alternativos de desenvolvimento, afirma Eduardo Brasileiro. Ele insiste em que “neste evento não há desejo de conversar com os grandes líderes globais, que se sentem numa mesa e negociem com os jovens”.
O representante do Brasil, insiste em que “há uma maturidade política, uma habilidade política de quem está construindo a Economia de Francisco y Clara que é perceber que são os territórios, se empoderando sobre processos cada vez mais de democracia económica, de organização popular, que geram um processo de transformação”.
Eduardo Brasileiro insiste que a Economia de Francisco y Clara, “não deve ser uma resposta para o mundo única, mas ela tem sua resposta a partir dos territórios”. Isso o leva a afirmar a necessidade de entender a Economia de Francisco e Clara como “uma expressão a partir dos territórios e não como uma plataforma que pega um documento para debater com políticos ou empresários”, e sim como “um processo de retomada das experiências territoriais”.
No caso do Brasil, se busca que o Estado se torne “o grande propulsor de uma retomada ecológica, de construção de políticas públicas, de investimento em renda e trabalho, um Estado que se volta ao território como um potencializador de políticas públicas, de desenvolvimento territorial”. Uma expressão disso é a economia solidária, “que gera renda, trabalho cooperado, superação da fome a través da agroecologia”, mas também os bancos comunitários, o orçamento participativo, que leve a “discutir para onde está indo o orçamento do povo”.
O grande parceiro da Economia de Francisco e Clara é, segundo Eduardo Brasileiro, o Pacto Educativo Global, que leve a discutir dentro das escolas, dos espaços de educação global e comunitária, nas comunidades eclesiais, ajudando a “perceber o território como lugar de potencialidades, não como lugar de ausências”, e com isso a “uma retomada do comunitário”.
Frente à postura de Margaret Thatcher na década de 80, quando ela dizia que “não existe sociedade”, potenciando o auge do neoliberalismo no mundo, Eduardo Brasileiro ressalta as palavras do Papa Francisco na Evangelii Gaudium, onde diz: “não deixem que os roubem a comunidade”, apontando que “o caminho de construção de um novo pacto social, ecológico, económico, educativo, ele passa por uma experiência comunitária de economia para os bens comuns, de economias para os territórios, para o desenvolvimento sustentável, para uma nova arquitetura económica”.
O atual cânone económico, onde economia é ausência de dinheiro, onde tudo é construído desde a escassez, é o que provoca segundo Brasileiro, posturas que não vem futuro para a atual sociedade. Tudo isso em consequência de um modelo de extração, de corporações que expoliam os recursos dos países. A alternativa é “realmar a economia, colocá-la no centro da vida da pessoa e de todos os outros ecossistemas, olhar para os territórios com maior criatividade”.
Uma Economia impulsada pelo Papa Francisco, considerado pelos jovens como “a maior autoridade política viva com preocupação pelos caminhos da humanidade. Ele é o que mais consegue vociferar, aglutinar forças denunciando esse modelo de morte, seja com a migração, seja contra as guerras, seja apontando a insensatez do mercado, do modelo climático, das políticas públicas”.
A presença do Papa Francisco no encontro, “ele já nos compromete ao modelo que priorize uma economia comprometida com processos de vida”, ressaltando que ele consegue promover uma escuta favorável da parte do mundo, uma atitude assumida pela Igreja do Brasil, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, pelas pastorais, que tem aberto muitos espaços para a Economia de Francisco y Clara. Eduardo Brasileiro faz um chamado a “resgatar um catolicismo de compromisso com a profecia, com os mais pobres, a não perder de vista os pobres e a Mãe Terra”.
Um Papa que se compromete a continuar, pois a Economia de Francisco e Clara tem o compromisso de gerar uma geração de jovens provocada pelos apelos que estão surgindo, gerando uma juventude comprometida com a transformação global, ressalta Eduardo Brasileiro.
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