Abusos de Menores: ?Este problema ¨¦ tanto da Igreja como ainda, muito mais, da pr¨®pria sociedade civil? ¨C Pedro Strecht
Lisboa ¨C Ecclesia
Pedro Strecht, coordenador da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica em Portugal, disse hoje que é preciso encontrar possibilidades de ¡°abertura e discussão do tema¡±, na Igreja e na sociedade.
¡°A bom tempo, quis a Conferência Episcopal Portuguesa [CEP] abrir os seus e os nossos olhos para este problema que é tanto da Igreja como ainda, muito mais, da própria sociedade civil, onde, por exemplo, no primeiro semestre de 2021, a Polícia Judiciária registou um número recorde de processos por abuso sexual de crianças, mais de 1300¡±, alertou o pedopsiquiatra, na abertura do colóquio sobre ¡®Abuso sexual de crianças: Conhecer o passado, cuidar do futuro¡¯, que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
O responsável sublinhou que a comissão quer levar a cabo um estudo que ¡°torne claro o problema¡± no seio da Igreja Católica, para se promova o seu conhecimento e a razão destes casos, falando num ¡°longo e difícil trabalho¡± que deve levar à ¡°paz e à reconciliação¡±.
O encontro desta terça-feira foi apresentado como um ¡°marco iniciático¡± de um processo que quer ajudar ¡°conhecer o passado e abraçar o futuro¡±, dando a milhares de crianças e adolescentes que foram vítimas destes crimes ¡°uma nova e renovada esperança quanto ao seu próprio sentido de vida¡±.
Pedro Strecht destacou a importância, para as vítimas, de uma integração psíquica ¡°de tudo quanto sofreram e que nunca, nunca, o tempo apagará e nada nem ninguém conseguirá reparar em definitivo¡±.
O especialista aludiu a ¡°crianças com vida suspensa¡±, marcadas por uma ¡°dor aprisionada¡± e por sentimentos de ¡°medo, vergonha e culpa¡±.
A intervenção inaugural do colóquio apresentou uma reflexão sobre o impacto de situações ¡°de trauma¡± durante a infância e na adolescência, ¡°a começar na fragilidade da autoimagem psíquica e corporal, prosseguindo nas dificuldades na relação com os outros¡±.
O coordenador da Comissão Independente criada por iniciativa da CEP destacou que hoje se pode contar com pais mais atentos e uma Justiça que ¡°protege melhor os mais pequenos¡±, ainda que nem sempre ¡°da forma mais rápida¡±.
¡°A realidade é mesmo outra, em 2022, nova e, sabemo-lo bem, assim vai ser cada vez mais, de forma rápida e diferente. Por isso, todos temos de evoluir, em conceitos individuais e sociais de bem-estar e felicidade¡±, acrescentou.
Ana Nunes de Almeida, socióloga e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que integra a comissão, afirmou que ¡°todos os testemunhos contam¡±.
Até à noite de segunda-feira, acrescentou, foram recolhidos 326 testemunhos, destacando a importância de ¡°conhecer a realidade¡±, na sua complexidade, para evitar ¡°julgamentos apressados¡±.
¡°Façamos desta causa uma causa civilizacional¡±, apelou.
«Trauma e impacto no desenvolvimento psicossocial»; «Abuso de menores: Conhecer para prevenir e intervir»; «Os Direitos da Criança: A Criança e o Direito» e «O trabalho da comissão independente» são temas em debate neste encontro.
O colóquio conta com preleções da psicóloga Isabel Soares; o padre Anselmo Borges; o jornalista João Francisco Gomes; Álvaro Laborinho Lúcio, antigo ministro da Justiça; e do presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.
A última intervenção está a cargo do padre jesuíta Hans Zollner (16h30-17h30), membro da Comissão Pontifícia para a Tutela de Menores (Santa Sé), que esteve em Portugal a orientar formação para dioceses católicas, em 2021.
LS/LFS/OC
Fonte: ECCLESIA
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