A vida humana ¨¦ sagrada
Frei Darlei Zanon - religioso paulino
Há poucos dias vimos entristecidos e perplexos a notícia de que o Tribunal Constitucional da Colômbia aprovou uma lei que permite o aborto voluntário até 24 semanas de gestação. Essa decisão é sem dúvida uma afronta à dignidade humana, que contradiz o direito à vida tanto quanto a guerra que estamos presenciando no leste europeu. E o pior é que notícias como essa são cada vez mais comuns, em todo o mundo, sobretudo em relação ao aborto, à eutanásia e à biotecnologia. A vida humana está em risco e por isso nós, cristãos, somos convocados a defendê-la com todos os meios possíveis, promovendo uma ¡°ética da vida¡±, pois o direito a? vida se refere aos valores fundamentais da sociedade, e de toda nossa civilização. É exatamente isso que nos pede o Papa Francisco na sua intenção de oração do mês de março, anunciada através do seu tradicional vídeo do mês. Francisco insiste ¡°para que nós, cristãos, diante dos novos desafios da bioética, promovamos sempre a defesa da vida com a oração e a ação social¡±.
Nunca é demais recordar e repetir que a Igreja é guiada pelo Senhor da Vida e, ao longo dos seus dois milênios de história, sempre defendeu a vida humana desde a concepção até a morte natural, com particular atenção às fases frágeis da existência. Precisamos defender a vida desde o ventre materno, mas também aquelas que já nasceram e são ameaçadas pela falta do necessário para viver. Vidas que clamam por socorro pois são violentadas pela ¡°desumanidade¡± em que se encontra a nossa sociedade. A vida pede sempre nova oportunidade, não fechemos os nossos olhos e ouvidos ao seu clamor.
O cristão deve sempre defender o ¡°Evangelho da vida¡±, expressão escolhida por João Paulo II para dar título à sua encíclica sobre ¡°o valor e a inviolabilidade da vida humana¡±. A Evangelium Vitae (1995) condensa as diretrizes do Magistério da Igreja a respeito da vida, expõe diversas ameaças para depois apresentar sinais de esperança e fazer um convite ao compromisso de promoção de uma nova cultura da vida, reconhecida sempre como ¡°dom¡±. Através desse documento, João Paulo II convida todos os cristãos a anunciar, celebrar e servir o Evangelho da vida.
Inúmeras outras vezes a Igreja se manifestou sobre o tema da vida e da bioética. Na encíclica Mater e Magistra, por exemplo, João XXIII enfatizava que ¡°a vida humana é sagrada¡±, afirmação retomada no Vaticano II através da constituição Gaudium et spes (1965) e por Paulo VI na Humanae vitae (1968). A certeza de que a vida humana é sagrada e deve ser constantemente protegida orienta também a doutrina expressa no Catecismo. A terceira parte do Catecismo da Igreja Católica (1992), sobre ¡°A vida em Cristo¡±, ao falar sobre os mandamentos (especificamente sobre o quinto mandamento ¨C ¡°Não matarás¡± ¨C nn. 2258-2330), é muito clara ao afirmar que ¡°toda a vida humana, desde o momento da concepção até à morte, é sagrada, porque a pessoa humana foi querida por si mesma e criada à imagem e semelhança do Deus vivo e santo¡± (n. 2319). E ainda, confirma que ¡°desde que foi concebida, a criança tem direito à vida. O aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, é uma «prática infame», gravemente contrária à lei moral¡± (n. 2322); e que ¡°a eutanásia voluntária, quaisquer que sejam as formas e os motivos, é um homicídio; é gravemente contrária à dignidade da pessoa humana¡± (n. 2324).
A Congregação para a Doutrina da Fé também se manifestou por diversas vezes sobre o tema da bioética que o Papa propõe para este mês. A instrução Donum vitae (1987) e? toda dedicada a? proteção do nascituro, com argumentos de ordem moral, jurídica e espiritual. Em 2008 a mesma Congregação publicou a instrução Dignitas personae (2008), sobre diversas questões de bioética, retomando os critérios da Donum vitae e atualizando o seu conteúdo à luz das novas problemáticas nesse campo.
Num momento em que somos ameaçados por tantos ¡°males¡±, faz bem colocar a vida humana ao centro das nossas orações e pensamentos. Por isso unamo-nos ao Papa Francisco ao longo deste mês de março, promovendo sempre a defesa da vida por meio da nossa oração e ação social. Esse é certamente um dos maiores contributos que a Igreja tem a oferecer ao mundo sobretudo no contexto de indiferença e na cultura de morte e do descarte que caracteriza o nosso tempo.
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