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Rui Saraiva – Portugal

Foi apresentada na quinta-feira dia 2 de dezembro em Portugal a Comissão Independente para Estudo dos Abusos de Menores na Igreja. O coordenador é o médico pedopsiquiatra Pedro Strecht, numa Comissão que conta com as seguintes personalidades: o psiquiatra Daniel Sampaio, o antigo ministro da Justiça Álvaro Laborinho Lúcio, a socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e também a cineasta Catarina Vasconcelos.

Foi em conferência de imprensa na Fundação Calouste Gulbenkian que Pedro Strecht teve oportunidade de apresentar a constituição da comissão e de sublinhar que no trabalho que agora se inicia “apenas conheceremos” uma “pequena parte de tudo o que pode ter acontecido”.

“Apenas conheceremos sempre uma pequena parte de tudo o que pode ter acontecido na realidade, ou seja, o que por fim sobressai ou chega a conhecer luz” – assinalou.

O coordenador desta entidade criada pela Conferência Episcopal Portuguesa citou o Papa Francisco e lembrou que em Portugal “registou-se uma saudável onda de indignação” no “campo dos abusos sexuais”:

“Em Portugal, nos últimos tempos e tal como em diversos países, registou-se uma saudável onda de indignação, movida pela procura de uma verdade histórica, sobre o que poderá ter acontecido a um número incontável de menores no campo dos abusos sexuais em diversos contextos da sociedade, em especial no seio da própria Igreja Católica. Numa visão que o seu próprio representante máximo, o Papa Francisco, tem vindo a pedir sucessivamente para ser objeto de clarificação inequívoca numa atitude de reconhecimento deste tipo de crimes pedindo e citando o próprio Papa: ‘o fim de uma cultura de morte e silenciamento cúmplice levado a cabo durante décadas por alguns elementos da própria Igreja’” – afirmou.

Esta Comissão vai desenvolver o seu trabalho no horizonte temporal de um ano, entre janeiro e dezembro de 2022. Pedro Strecht lançou um apelo às vítimas para que “relatem, finalmente e sem medo, o que lhes aconteceu”.

“Apelamos desde já a todas e todos quantos possam ter sido vítimas destes crimes para que ousem falar. Que relatem, finalmente e sem medo, o que lhes aconteceu” – declarou.

Pedro Strecht disse contar com o apoio da sociedade civil e da comunicação social para a tarefa da Comissão Independente para Estudo dos Abusos de Menores.

“Não podemos mudar o passado, mas podemos sempre construir um futuro melhor e livre da repetição deste tipo de situação junto dos vossos filhos, netos ou simplesmente de todas as crianças e adolescentes em que certamente podemos rever partes de nós mesmos” – disse o coordenador da Comissão.

A decisão de criar uma comissão independente neste âmbito foi tomada pela Conferência Episcopal Portuguesa na última Assembleia Plenária que decorreu entre os dias 8 e 11 de novembro em Fátima.