Nova Zelândia: bem recebido pela Igreja Relatório da Comissão Real sobre abusos
Isabella Piro – Pope
Acompanhamento, responsabilidade e transparência: essas foram as três palavras-chave usadas pela Igreja Católica na Nova Zelândia para comentar a publicação do relatório provisório sobre abusos ocorridos em instituições do Estado e religiosas. O documento da Comissão Real foi apresentado na quarta-feira (15/12) ao Parlamento.
O documento – que trata das reparações a vítimas de abusos e oferece algumas sugestões sobre como ouvir os sobreviventes e reparar os danos a eles causados - foi bem recebido pela Conferência Episcopal do país (NZCBC), pelas ordens religiosas e pelo Te Rōpū Tautoko, grupo de suporte que coordena o trabalho da Igreja junto à Comissão Real.
“Vamos estudá-lo com atenção – afirma o comunicado publicado no site dos bispos – e veremos como podemos implantar as recomendações”.
As recomendações da Comissão
“Os líderes da Igreja – prossegue a nota – foram desafiados pela Comissão a mudar sua abordagem em relação às questões relacionadas aos abusos”. Isso significa, por exemplo, facilitar a apresentação das denúncias e acesso a indenizações.
Além disso, o relatório sugere o comprometimento da Igreja, Comissão Real e governo para instituir um sistema independente de reparações para os sobreviventes.
O documento também assinala a importância de garantir uma maior independência dos órgãos eclesiais envolvidos e estabelecer novos recursos para apoiar as vítimas que denunciam os abusos.
A Comissão pede ademais que a Igreja reveja o sistema de atribuição de títulos honoríficos aos responsáveis por abusos, devido ao impacto negativo que isso causa às vítimas. Por fim, são também indicados: o estabelecimento de protocolos específicos para responder às denúncias, assegurar a formação contínua e profissional do clero e de membros da Igreja que trabalham nesse setor, além de publicar diretrizes para uso das autoridades eclesiásticas em relação aos funerais de acusados de abuso.
Bispos: escuta atenta das vítimas
“Nós escutamos atentamente o que as vítimas relataram à Comissão Real – afirma o cardeal John Dew, presidente da Comissão Episcopal da Nova Zelândia. Anteriormente já havíamos apoiado a criação de um sistema de reparação independente. Agora, esse relatório fornece uma série de recomendações que podemos estudar para nos ajudar mais à medida que caminhados ao lado de sobreviventes de abuso”.
No mesmo sentido, a presidente da Conferência das Superioras Gerais, Irmã Margaret Anne Mills, que afirma reconhecer que “os danos sofridos pelas vítimas de abusos” e ver com bons olhos este relatório que “é um passo para mudar as coisas, tanto agora, como no futuro”.
O roteiro da Igreja para um trabalho proativo
Já a presidente do Te Rōpū Tautoko, Catherine Fyfe, reitera o agradecimento deste seu grupo de trabalho à Comissão pela elaboração deste relatório “e não vê a hora de ajudar os líderes da Igreja no percurso de revisão e implementação das recomendações” nele contidas.
Sublinha-se ainda, que mesmo antes da publicação do documento, a Igreja já havia começado a “trabalhar de forma proativa”.
Te Rōpū Tautoko, de fato, “criou um roteiro a ser implementado em todas as áreas da Igreja para promover melhorias”, e assim contribuir para prevenir, enfrentar, curar e reparar os abusos.
“O roteiro deixa claro a todos os progressos que estamos fazendo e o trabalho que ainda precisamos fazer – continua Fyfe. Isso proporciona um senso de responsabilidade e transparência”.
Todos os abusos são inaceitáveis e indefensáveis
Especificamente, este roteiro reitera que “toda pessoa possui uma dignidade humana inata” e que, portanto, “todas as formas de abuso são inaceitáveis e indefensáveis”.
Neste sentido, a exortação a trabalhar com responsabilidade para “acabar com os abusos na Igreja, escutar, aprender e apoiar os sobreviventes, agir rapidamente em caso de denúncia, garantir que os responsáveis por tais atos assumam suas culpas”, “cooperar ativamente com a Comissão Real” e, por fim, “comprometer-se com a transparência”.
Salvaguardar crianças, jovens e vulneráveis
“Foram feitos e continuam a ser feitos esforços significativos para acolher as denúncias de abuso e pedidos de proteção para crianças, jovens e adultos vulneráveis – acrescenta o Te Rōpū Tautoko. E esses esforços nos levaram a mudanças e melhoramentos significativos nos últimos 25 anos”, na ótica de um constante “processo de revisão de padrões profissionais” do setor. Naturalmente, ainda há muito por fazer: “O desafio para todos na Igreja, é o de sempre ter mais informações sobre as vítimas, o que implica compreender seus traumas e os impactos que estes tiveram a longo prazo nas diferentes gerações e sobre toda a comunidade”.
O trabalho da Comissão Real
Instituída pelo governo da Nova Zelândia em 2018, a Comissão Real de investigação sobre os abusos é um órgão independente que investiga casos de abuso sexual, mas também físico, emocional e psicológico, ocorridos entre 1950 e 1999, em instituições do Estado e religiosas. Seu principal objetivo é verificar a integridade dos processos de reparação e estabelecer como apoiar as vítimas. No outono de 2020, a Comissão ouviu os depoimentos de testemunhas, enquanto em uma segunda fase, realizada em março deste ano, foram ouvidos representantes de instituições religiosas, incluindo o cardeal Dew, que apresentou às vítimas de abusos as desculpas formais da Igreja Católica na Nova Zelândia.
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