João Paulo I será beato: Episcopado brasileiro havia pedido sua beatificação
Raimundo de Lima - Pope
A notícia desta quarta-feira (13/10) da autorização dada pelo Papa Francisco à Congregação das Causas dos Santos a promulgar o decreto sobre a cura milagrosa atribuída à intercessão de João Paulo I nos enche de alegria. Com este ato do Santo Padre abre-se o sinal verde para a beatificação de Albino Luciani, o “Papa Sorriso”, cujo Pontificado durou apenas 33 dias, um dos mais breves na história da Igreja.
João Paulo I foi eleito Papa em 26 de agosto de 1978, sucedendo Paulo VI, e veio a falecer em 28 de setembro seguinte. Com essa decisão de Francisco, só falta agora aguardar a data da beatificação de Luciani, a ser estabelecida pelo próprio Santo Padre.
Já de há muito se esperava esta notícia. A fama de santidade de Albino Luciani está presente no mundo inteiro, inclusive no Brasil. O fato de todo o episcopado brasileiro ter pedido a abertura de sua causa de beatificação é uma expressão eloquente da fama de santidade deste grande pastor, que havia escolhido a palavra “humilitas” para seu brasão episcopal.
Amizade com Lorscheider e proximidade com o Brasil
É conhecida a proximidade de Albino Luciani com o Brasil, a amizade que teve com o cardeal Aloísio Lorscheider. Dom Aloísio acompanhou o futuro Papa João Paulo I quando de sua ida a Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em novembro de 1975, ocasião em que recebeu o diploma honoris causa da Universidade Federal gaúcha.
Num artigo publicado na Revista 30Dias em memória do cardeal Lorscheider, falecido em 2007, a vice-postuladora do processo de beatificação de João Paulo I, Stefania Falasca, traz alguns detalhes daquela visita do futuro Papa, contados por dom Aloísio, segundo o qual Albino Luciani se sentiu em casa em Santa Maria, pois tanto ele como o povo falavam vêneto. Vale ressaltar que do Vêneto – região italiana de origem de Luciani – partiram milhares italianos para o Brasil, sobretudo entre os anos 1880 e 1950. Daí, uma forte presença de italianos e descendentes de italianos também no Rio Grande do Sul.
Dom Aloísio lembrou a grande multidão que se reuniu na ocasião para ouvir o então patriarca de Veneza e as muitas pessoas que viu chorar quando Luciani, com simplicidade, dirigiu-se a elas falando em dialeto.
Eleição à Cátedra de Pedro e o voto de Luciani a dom Aloísio
Muitas reconstruções acerca da eleição de Albino Luciani à Cátedra de Pedro apontam o cardeal Aloísio Lorscheider – junto com o cardeal Paulo Evaristo Arns - como articulador da eleição de João Paulo I. Dom Aloísio, então arcebispo de Fortaleza e vice-presidente do Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano), era o mais jovem dos cento e onze cardeais que participaram do Conclave de agosto de 1978, tinha 53 anos. Na última votação, dom Aloísio recebeu um voto. Era o de Albino Luciani, como o próprio Luciani revelou: tal era a estima e o apreço de João Paulo I pela densidade humana e pastoral do então arcebispo de Fortaleza. Uma estima recíproca. Luciani e Lorscheider tinham sido padres conciliares. Juntos, como jovens bispos, tinham participado de todas as quatro sessões do Concílio ecumênico Vaticano II.
Dom Aloísio contou que no momento de cumprimentar o novo Papa, depois da eleição, na Capela Sistina, Luciani lhe disse. “Venha me ver, estou esperando”, mas Lorscheider acrescentou: “Não cheguei a poder fazer isso”.
De fato, João Paulo I veio a falecer apenas trinta e três dias após a sua eleição à Cátedra de Pedro. Sua simplicidade, humildade, humanidade e sorriso evangélico ficaram como marca indelével no coração de milhões de pessoas no mundo inteiro. A notícia de sua beatificação, agora próxima, nos traz a alegria por este grande pastor que governou a Barca de Pedro no breve espaço de um sorriso.
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