Padre Bertolin: S?o Jos¨¦, Pai no Acolhimento
Padre José Antônio Bertolin - Centro de Espiritualidade Josefino-Marelliana ¨C Apucarana, Paraná
O Papa Francisco, no prosseguimento de sua reflexão sobre os títulos por ele dado a São José em sua carta apostólica ¡°Patris corde¡±, lembra a dimensão da acolhida dele dentro de sua missão de esposo de Maria e de pai de Jesus. Enfatiza que José acolheu Maria sem colocar condições prévias; simplesmente confiou nas palavras do anjo dirigidas a ele, pois tudo o que sabia da lei, devido à nobreza do seu coração, ficou subordinado ao seu amor por ela.
Na verdade, o Papa ressalta a consideração e o respeito de José manifestado à Maria por essa sua atitude dentro de um mundo onde a mulher era considerada um objeto que pertencia ao marido e que o marido podia rejeitá-la por qualquer motivo, sendo na esfera social e religiosa sempre inferiorizada e sujeita a punições e até à pena capital; em suma, era uma escrava. Essa atitude de homem respeitoso e delicado de José pela sua esposa tem muito a ensinar ao mundo de hoje em que paira a violência verbal e física à mulher, vitima de feminicídio e desrespeitada em sua dignidade.
Ao acolher Maria, sua esposa, José teve um comportamento que se expressou no respeito e no valor da pessoa humana; colocou-se como dom para Maria, pois acreditou no seu valor, na sua santidade, no mistério que ela trazia consigo, e, por isso, teve uma atitude por ela de plena atenção e compreensão. O Papa ressalta que ¡°essa atitude acolhedora de São José é um convite a todos nós a receber os outros, sem exclusões, tal como eles são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil¡±. Na conclusão de seu raciocínio o Papa diz: ¡±Posso imaginar ter sido do procedimento de José que Jesus tirou inspiração para a parábola do filho pródigo e do pai misericordioso¡±.
A atitude de José deve ter marcado profundamente esse momento da vida de Maria, pois muito embora ela fosse a criatura mais perfeita saída das mãos de Deus, a predestinada, a ¡°cheia de graça¡±, a Mãe do Salvador, não era isenta dos preconceitos da sociedade do seu tempo, da discriminação que lhe era imputada por ser mulher, assim como não foi poupada dos sofrimentos, da ¡°espada de dor que transpassou o seu coração¡± ao ver o seu amado filho vitima da brutalidade e da incompreensão dos homens sendo pregado na cruz, tonando-se assim a Senhora das Dores.
Maria ao ser acolhida por José sentiu-se profundamente a mais amada, como era a amada por Deus e a bem-aventurada porque acreditou. Maria era, conforme as palavras de Santo Afonso Maria de Ligório, ¡°a mais perfeita entre todas as mulheres, a mais humilde, a mais mansa, a mais pura, a mais obediente e a mais amante de Deus, como nunca houve nem haverá outra entre todos os homens e anjos. Era, pois, merecedora de todo o amor de Jos顱.
Esse comportamento acolhedor de São José para com a sua esposa fez humanamente a diferença na vida da Mãe de Deus, pois prescindindo da fé e da graça que a acompanhava para a vivência de sua maternidade divina, ela sentiu o quanto é importante ser acolhido, ser valorizado como pessoa no relacionamento social. Como Jesus que na sua humanidade sentiu a alegria da amizade de Lázaro e de suas irmãs, sentiu gratidão pelo frasco de perfume precioso derramado em seus pés por Maria Madalena, sentiu a ternura de seu pai José que o acompanhava entre as madeiras da oficina de Nazaré na lide do trabalho, muito mais porque esse amor não foi, segundo as palavras de Santo Afonso Maria Ligório ¡°um amor puramente humano, como o dos outros pais, mas um amor sobre-humano, visto que na mesma pessoa via seu Filho e seu Deus¡±, ou de sua própria mãe que o acolheu em seu ventre, transmitiu-lhe a vida humana e o acompanhou com amor de mãe até o momento de sua subida para o Pai.
Diante do acolhimento de José podemos também nós perceber como nos sentimos felizes e realizados quando somos respeitados e valorizados, quando recebemos atenção, somos ouvidos ou percebendo no outro uma postura física que nos comunique uma consideração por nós, pelos nossos pensamentos e ações. A atitude de acolhimento de José pela sua esposa leva a pensar que ele ¡°não é um homem resignado passivamente. O seu protagonismo é corajoso e forte¡±, diz Francisco, pois o acolhimento é um modo pelo qual se manifesta o dom da fortaleza que vem do Espírito Santo.
Ser acolhedor é, portanto, possuir o dom da fortaleza e com este, como ensina o Papa Francisco faz com que ¡°o Espírito Santo liberta o terreno do nosso coração do torpor, das incertezas e dos medos que possam impedi-lo, de modo que a Palavra do Senhor seja colocada em prática, de forma autêntica e alegre. É uma verdadeira ajuda este dom; dá-nos força e liberta-nos de tantos impedimentos¡±. Ser acolhedor é, portanto, possuir o dom da coragem que nos impulsiona a reconhecer o nosso próximo, particularmente os marginalizados e pobres; isso nos faz ser simpáticos nos ajudando ter o desejo de compreender o outro, de ser sensíveis às suas dores, sofrimentos e sentimentos.
Com a acolhida São José trouxe Maria para mais perto de si, compreendeu a sai situação e embora sabendo que ela era a Mãe de Deus, tinha consciência de que ela tinha algo em comum com ele, ou seja, a sua humanidade. São José não a deixou sozinha, mas a acolheu e a respeitou na sua individualidade e missão, e muito embora os Evangelhos não nos relatem, ele soube escutar o que ela tinha a lhe dizer e soube guardar o segredo de sua maternidade divina em seu coração. A partir daquele momento a sua vida humana de Maria era mais iluminada porque ela passava a percorrer a sua peregrinação na fé juntamente com ele. A atitude corajosa de José para com sua esposa indicou que a sua vida tinha um ¡°recomeço milagroso¡± e tinha muito mais força para viver a sua missão materna segundo aquilo que lhe indicava o anjo do Senhor.
Como a vida de Maria ficou mais luminosa com a acolhida dela pelo seu querido esposo, também a nossa vida e a de nossos irmãos pode ficar também. Muita bonita a expressão de Francisco: ¡°Deus pode fazer brotar flores no meio das rochas¡±; Deus pode fazer com que façamos brotar flores na vida dos nossos irmãos com o exemplo da atitude acolhedora de São José, o qual não buscou atalhos, mas enfrentou de olhos abertos o que lhe sucedia ¡°assumindo pessoalmente a responsabilidade¡± por sua atitude.
Podemos fazer brotar flores na vida dos nossos irmãos com a atitude da acolhida deles em nossas vidas por meio da virtude da fortaleza com um cumprimento, um sorriso, um abraço, um aperto de mão, um reconhecimento de algo bom ou a valorização de uma conversa. A nossa acolhida aos irmãos e irmãs fará com que eles se sentam bem em estar conosco, em conversar conosco e vice-versa. A nossa acolhida aos irmãos e irmãs nos ajudará a ver neles a imagem e semelhança de Deus, ou como quer Jesus, acolher o próprio Deus neles. A nossa acolhida fará com que as pessoas se tornem mais felizes se as consideramos importantes, por isso, qualquer confrade ou pessoa que recebermos em nossas casas deveria receber a mesma consideração que daríamos se recebêssemos um Presidente da República ou o Papa.
Em suma, acolher é proporcionar um gesto de compreensão, respeito, carinho, gentileza e bondade ao outro, por isso nem sempre é fácil praticar essa virtude que São José nos ensina, pois exige que saiamos de nossa zona de conforto e para fazermos isso será muitas vezes necessário fechar a nossa boca e abrir os nossos braços para o confrade, deixando os nossos gestos falarem, sendo fonte de carinho. Será necessário ouvir o outro sem julgamentos, mas coam empatia. Será necessário que individuemos os momentos que o outro está passando sendo um sopro de vida para este que talvez não encontre mais fôlego para lutar.
Em nosso mundo utilitarista que valoriza predominantemente o ganho, a produção, a beleza, o fascínio, a acolhida aos nossos irmãos, que não têm o que dar, será um bálsamo. Nós todos, como cristãos, corremos o perigo de embarcar nessa mentalidade produtivista do mundo; portanto, precisamos estar atentos de não fechamos os olhos aos nossos irmãos, e por isso corrermos o risco de não acolhermos, sobretudo, os mais necessitados de compreensão, carinho e amor, com os idosos em suas solidões, não valorizando, por exemplo, as suas histórias. Precisamos nos lembrar que se em nossas casas houver acolhimento haverá vida, alma, lar, e qualquer alma machucada que por ventura nela houver esta será curada, pois o unguento da acolhida desencadeará um processo de cura a estas pessoas. Foi isto que São José fez: uma pessoa acolhedora, que acolheu, com a sua alma, coração e sua vida, a pessoa de Maria, sua esposa e, com ela, manifestando e evidenciando, todo o seu amor, carinho e atenção.
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