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Cardeal Sergio da Rocha: Economia e meio ambiente

O respeito à vida, à dignidade e aos direitos fundamentais devem figurar como critérios essenciais na compreensão da economia e da ecologia, permitindo que ambas caminhem juntas na organização social.

Cardeal Sergio da Rocha, Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

A relação entre a economia e o meio ambiente tem sido objeto de estudos e debates, pela sua especial importância para a humanidade, pois habitamos uma casa comum.  O Papa Francisco dedicou a sua renomada carta encíclica Laudato Si ao “cuidado da casa comum”, na perspectiva de uma “ecologia integral”, que inclui as dimensões ambiental, econômica e social. Ele nos alerta para a gravidade da crise ecológica e convida-nos a um novo estilo de vida e de desenvolvimento.

Necessitamos refletir seriamente sobre as implicações socioambientais do almejado crescimento econômico e sobre as condutas que adotamos na vida social e no cotidiano. O desenvolvimento sustentável, procurando conjugar a atividade econômica com a preservação ambiental, precisa figurar mais nas ações dos governos e empresas. Ao contrário, continuará a se agravar o triste cenário marcado pelo aquecimento global, esgotamento de recursos naturais, poluição do ar e das águas, desertificação, desaparecimento de espécies de plantas e animais, extinção de povos nativos, dentre outros sérios problemas. Além da preservação dos diversos biomas, o desenvolvimento econômico deve ser acompanhado do desenvolvimento humano e social. Se ficar reduzido à produção de bens e acumulação de riquezas, sem metas sociais, irá alimentar e piorar o grave problema da desigualdade social. Por isso, deverá promover a justa distribuição dos bens econômicos, permitindo o necessário desenvolvimento humano e social, com a superação das situações de exclusão.

Encontra-se nos inícios da Bíblia o fundamento para uma reta postura econômica e ecológica na preciosa passagem em que Deus coloca o homem e a mulher no jardim, imagem do mundo segundo o querer do Criador, resumindo a tarefa deles através dos verbos “cultivar e guardar” (Gn 2,15). Nesta perspectiva, o homem não é o “senhor”, mas o “administrador”, o “guarda”, da casa comum. Podemos dizer que o homem e a mulher deveriam ser “jardineiros” do mundo. A palavra “economia”, em sua raiz grega, refere-se à “administração da casa”. No mundo globalizado deve crescer a consciência da corresponsabilidade na administração da casa comum, por meio da organização econômica, superando as agressões ao meio ambiente e as situações de exclusão, que atingem especialmente os pobres. O desrespeito ao meio ambiente costuma ser acompanhado do desrespeito à pessoa humana, pois ambos possuem a mesma raiz, o desrespeito à vida. Por isso, um modelo de desenvolvimento que não preserva a natureza acaba violando também a própria pessoa humana. O respeito à vida, à dignidade e aos direitos fundamentais devem figurar como critérios essenciais na compreensão da economia e da ecologia, permitindo que ambas caminhem juntas na organização social.

*Artigo publicado no jornal A Tarde, em 01 de agosto de 2021.

 

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03 agosto 2021, 16:32