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Os 60 anos de Dom Marcuzzo na Terra Santa

Dom Giacinto-Boulos Marcuzzo ex-bispo auxiliar da Terra Santa recorda os 60 anos de convivência na comunidade cristã que considera "em evolução". Após a presidência Trump e a era Netanyahu, não são visíveis "sinais positivos". Entre os objetivos "reforçar o compromisso com os migrantes", a formação teológica e a unidade, salvaguardando as diferentes peculiaridades

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Uma região que vive uma "alternância entre esperanças e decepções" e uma Igreja chamada a "manter viva a experiência missionária". É assim que Dom Giacinto-Boulos Marcuzzo –  descreve as tensões entre Israel e a Palestina e uma comunidade cristã em "evolução". O ex-bispo auxiliar deixou o cargo de vigário patriarcal de Jerusalém dos Latinos há poucos dias por limite de idade, mesmo permanecendo ativo no trabalho pastoral. Durante o fim de semana, o prelado celebrou o sacramento da crisma em uma pequena paróquia na fronteira entre Jenin e Nazaré, porque a alegria do anúncio supera "a decepção no plano político por uma paz que nunca chegou". Segue a entrevista com Dom Marcuzzo:

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Desde a guerra relâmpago em Gaza até o final da era Netanyahu, que perspectivas estão se abrindo na região?

Estamos vivendo uma alternância de esperanças e decepções, decepções e esperanças. Agora temos um novo governo [liderado pelo Primeiro-Ministro Naftali Bennett], que não apresenta elementos de novidade, de qualquer modo é uma mudança. Após a presidência Trump nos Estados Unidos não se veem sinais positivos e a ideia de um território para dois Estados não parece mais possível. É necessário um árbitro forte, mas a ONU é fraca e os EUA são muito parciais [mesmo com Biden]. Para Gaza, a situação é a mesma de antes, o povo está cansado de guerras, de violências, de viver em uma prisão ao ar livre.

Os chefes do Patriarcado visitaram os cristãos da Faixa de Gaza. Que realidade vocês encontraram?

Conhecemos os 1.234 membros da comunidade, conhecemo-los um a um, e os admiramos por sua força e coragem. Eles são bons em resistir, nos disseram que gostariam de partir, mas não há possibilidade, por isso continuam tentando ser "o sal e a luz do mundo". Felizmente, os cristãos podem trabalhar, graças às escolas e hospitais, o centro para deficientes e a Cáritas, que representam uma saída fundamental no plano profissional.

Nos últimos dias o Patriarca Pizzaballa, fez uma série de nomeações que, após seu mandato como administrador apostólico, exerce plenamente suas funções. Quais são as perspectivas?

O Patriarcado segue no caminho da "bela evolução", porque as mudanças trazem elementos positivos. Novos vigários para Amã, Jerusalém, para o cuidado pastoral dos migrantes, da comunidade judaica e do Chipre. Queremos assegurar a continuidade da missão na terra de Cristo, infundindo elementos de novidade segundo as ideias do Papa Francisco: sinodalidade, o ano de São José, a Sagrada Família viajando pelos países árabes. E novamente, reforçando o compromisso com os migrantes - filipinos, cingaleses, nigerianos, indianos - que são cada vez mais numerosos e dos quais devemos tomar cuidado.

Para quais objetivos?

Primeiramente para melhorar a formação teológica de leigos e seminaristas, um aspecto que o novo Patriarca insiste muito. A unidade, porque apesar de sermos tão diferentes uns dos outros na Jordânia, Gaza, Palestina, Chipre, Israel, devemos trabalhar para fortalecer os laços, salvaguardando as peculiaridades. Por fim, uma maior coesão entre os sacerdotes, especialmente os locais, para que sejam a Igreja de Jerusalém.

No plano pessoal, como o senhor está vivendo esta nova fase da sua missão?

Como sempre no passado, com grande alegria e entusiasmo. Para uma fase que termina, começa uma nova onde sou mais livre no aspecto dos compromissos oficiais, mas conservo intacto o espírito de serviço. Vivo nesta região desde os anos 60, apesar disso, continuo estudando, para aprofundar os temas que caracterizam a missão. Hoje [10 de julho] tenho uma crisma em uma pequena paróquia na fronteira entre Jenin e Nazaré, que aguarda este momento com grande entusiasmo.

Qual é o balanço de 60 anos de vida na Terra Santa?

No plano político, a decepção por uma paz que nunca chegou. Não era possível esperar que todos os problemas se resolvessem, mas era legítimo esperar por um acordo. Em vez disso, as guerras se sucedem, a intifada, e não vemos o fim do túnel. No plano pessoal, sinto-me ligado à terra de Jesus e à Igreja de Jerusalém, uma realidade que sofreu muito, mas que continua sendo um exemplo de resistência e resiliência.

Excelência, há algum projeto não realizado que o senhor gostaria de concluir?

O meu maior desejo é que possamos desenvolver de forma mais ampla e profunda o conhecimento do pensamento teológico cristão católico e dar um novo impulso à patrologia árabe, um rico patrimônio a ser descoberto. Estamos apenas a 6, no máximo 7% do total de manuscritos conhecidos e ainda há muitos para serem abertos, para serem descobertos, para serem estudados.  

Como o senhor avalia o diálogo com o mundo judeu e muçulmano?

Deve continuar e ser mais sincero. Gostaria que fosse mais leal, um confronto franco que não escondesse outros objetivos, que pudesse ser liberado dos esquemas clássicos. Deve ser belo, aberto e estimulante.

Qual é o seu desejo final para o Patriarcado Latino e, mais em geral, para a Igreja na Terra Santa?

Para que mantenha viva a experiência missionária. Eu mesmo passei seis anos no Sudão do Sul e foi uma experiência inesquecível, que guardo com muita nostalgia e gratidão. Gostaria que toda a Igreja de Jerusalém tivesse este estímulo missionário, indo na direção dos outros. Admiro as palavras do Papa quando ele fala da "Igreja em saída" do Cenáculo. Aqui nasceu a Igreja para depois ir ao encontro dos outros, com as feridas da paixão ainda em uma mão e um pedaço de pão na outra.

(Fonte: de Dario Salvi para Asia News)

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14 julho 2021, 09:23