Rio de Janeiro: dom Orani preside missa pela paz em Jacarezinho
Carlos Moioli - Arquidiocese do Rio de Janeiro
¡°Estamos reunidos para pedir ao Senhor o dom da paz e que Ele nos ajude a construir um mundo diferente onde cada pessoa humana possa viver com dignidade. Também vim aqui para rezar e manifestar minha proximidade com todas as famílias que estão machucadas e choram pela perda de seus entes queridos, incluindo as vítimas da pandemia da Covid-19¡±, disse o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta, ao presidir uma missa pela paz na comunidade do Jacarezinho na quarta-feira (12), em memória aos 28 mortos em uma operação policial contra o tráfico de drogas ocorrida no dia 6 de maio.
No início da celebração, realizada no Largo do Cruzeiro, próximo à Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, foram lidos os nomes dos mortos. O local escolhido foi para evitar aglomerações. Num clima de muita emoção, o pedido de paz foi feito com o aceno de bandeirinhas brancas. Muitas pessoas vestiam camisetas com fotos de familiares.
¡°Vivemos tempos difíceis e de muitas dores, mas buscamos e desejamos a paz junto com aqueles que sofrem. Na vivência do Evangelho e configurados a Cristo, precisamos dar passos, olhar para o futuro com esperança e confiança no Senhor. Encontrar caminhos de paz num mundo de tantas injustiças, egoísmos e sofrimentos. De fazer a experiência da misericórdia e do perdão do Senhor para viver a fraternidade uns para com os outros¡±, acrescentou o arcebispo.
Presença transformadora
Dom Orani também manifestou sua unidade com os padres da Congregação Salesiana, a quem a paróquia é confiada, recordando o protagonismo do venerando padre Nelson Carlos Del Mônaco, que na década de 1950 iniciou a evangelização na comunidade, uma das maiores favelas da zona norte da cidade, marcada por muitos desafios sociais.
Além do trabalho de evangelização e no âmbito da caridade social através das Obras Profissionais Santa Rita de Cássia, a paróquia mantém a Escola Alberto Monteiro de Carvalho, de ensino fundamental, na qual já formou milhares de educandos para a vida.
Concelebrantes
Na celebração, a presença do pároco local, padre Adenilson Lopes Rubim, e do diretor da Inspetoria São João Bosco, padre Natale Vitali Forti, ambos da Congregação Salesiana. Ainda o vigário episcopal do Vicariato Norte, padre Aldo de Souto Santos, o coordenador arquidiocesano da Pastoral de Favelas, monsenhor Luiz Antônio Pereira Lopes, e outros sacerdotes.
Instrumentos de paz
Na homilia, ao recordar o Salmo 122, contemplado na liturgia do dia, dom Orani indagou aos fiéis o que poderia ser feito para que a comunidade pudesse ter tempos de paz, para que a ¡°paz reine dentro de seus muros¡±. Aparentemente é impossível, mas observou que o Senhor, por ação do Espírito Santo, concede os dons necessários para transformar a realidade no aspecto pessoal, na família, na comunidade, na sociedade.
¡°Muitas vezes temos uma pedra na frente da nossa vida, e dá-se a impressão que não há solução para resolver tantas situações, sobretudo as de violência. Mas, não esqueçamos que a pedra do túmulo de Jesus foi retirada, sinal que a morte não tem a última palavra, mas sim a vida. Os problemas que existem no mundo nascem de situações de pecado, de desobediência ao plano de Deus, mas ao ressuscitar, o Senhor disse aos seus discípulos: ¡®a paz esteja com vocês¡¯, uma paz que começa com a cura do nosso próprio coração. Se desejamos construir uma nova sociedade, precisamos começar por nós mesmos¡±, apontou o arcebispo.
Dom Orani observou que a Igreja, mesmo em tempos de perseguições e dificuldades, sempre procurou transformar as estruturas com o contágio do bem. Essa nova maneira de ser não vem de ideologias, mas de quem vive o Evangelho, de quem se abre aos dons do Espírito Santo, de quem deixa se transformar e se torna um fermento de um tempo novo, de uma vida diferente.
¡°O mundo está cheio de injustiças e maldades, mas como cristãos, somos chamados a ter esperança e trabalhar pela paz. Tudo pode parecer uma utopia, algo não realizável, mas sabemos que o mundo vai se transformando com aqueles que sonham e lutam por tempos novos. O Senhor está vivo no meio de nós, e nos impulsiona a ser uma presença, uma luz na sociedade¡±, disse.
¡°Muitos homens e mulheres bem próximos de nós assim viveram e servem de exemplo, como Santa Teresa de Calcutá e Santa Dulce dos Pobres. Chamadas a cuidar dos mais necessitados, começaram de forma simples, não imaginaram quanta coisa iria acontecer, mas seus gestos ultrapassaram fronteiras. Também São Francisco de Assis, que foi chamado a reconstruir com a sua vida a Igreja de Cristo. As coisas parecem pequenas no início, e por nós mesmos não conseguimos realizar, mas quando vêm de Deus acontecem maravilhas¡±, acrescentou.
Desejos de paz
Ao implorar o socorro materno de Nossa Senhora, auxílio dos cristãos, padroeira da comunidade, dom Orani pediu que as feridas fossem curadas pela graça de Deus, a comunidade fosse respeitada e que seus moradores tivessem o direito de viver com dignidade.
¡°O cristão é aquele que busca os seus direitos quanto ao trabalho, à moradia, saúde, educação, dignidade de ir e vir, mas sem ódio e rancor no coração. Deve amar indistintamente as pessoas, e rezar uns pelos outros. Que o Senhor cure nossas feridas, nos dê esperança no presente e no futuro, nos impulsione a transformar nossa vida e que sejamos instrumentos de sua paz¡±, disse.
Por fim, dom Orani abençoou a todos, com a mesma oração que o povo de Deus recebe desde o Antigo Testamento, com o desejo que ela permanecesse no coração de cada um para sempre: ¡°O Senhor vos abençoe e vos guarde. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre vós, e tenha misericórdia de vós. O Senhor sobre vós levante o seu rosto e te dê a paz¡± (Num 6, 24-26).
Portas abertas
No final da celebração, o pároco, padre Adenilson Lopes Rubim, agradeceu a presença e a unidade de dom Orani, que como bom pastor, encorajou os fiéis da comunidade e os padres salesianos para continuar animados na missão.
¡°É muito importante estarmos juntos nesse tempo, sobretudo num tempo que pede de nós um encorajamento mútuo¡±, disse.
Em nome da Congregação Salesiana, padre Natale Vitali Forti pediu o auxílio da padroeira para a missão, e lembrou ao povo de Deus que as ¡°portas da paróquia sempre estarão abertas para todos, sobretudo, aos que sofrem, aos que precisam de um ombro amigo¡±, disse.
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