No mundo 340 milh?es de crist?os perseguidos. Covid agrava discrimina??es
Marco Guerra ¨C Pope
Há mais de 340 milhões de cristãos no mundo, cerca de um em cada oito, que sofrem um alto nível de perseguição e discriminação, um fenômeno que para 309 milhões desses fiéis se torna até "extremo" em 50 países. Esta é a denúncia do relatório anual da ONG Open Doors apresentado na quarta-feira (13) em Roma.
O contexto da pandemia
O trabalho da equipe de pesquisadores da Open Doors, empenhada em monitorar a situação dos cristãos em 100 nações ao redor do mundo, revelou um agravamento substancial das situações de vulnerabilidade de cristãos individuais e comunidades de crentes expostos à perseguição, devido à pandemia da Covid-19 que criou um contexto pretextual para novas restrições à liberdade religiosa e fomentou a agilidade de grupos fundamentalistas e criminosos.
Aumentam as mortes de cristãos
O documento afirma claramente que "a perseguição anti-cristã está crescendo em termos absolutos". Estima-se que no último ano o número de cristãos mortos foi de 4.761 (uma média de 13 por dia) com um aumento de 60% e a Nigéria juntamente com outras nações da África Subsaariana estão entre os 10 principais países com mais mortes de cristãos. Os cristãos presos sem processo e encarcerados são 4.277 (11 a cada dia) e os cristãos sequestrados 1.710 (uma média de 4 por dia). Por outro lado, houve uma diminuição no número de fechamentos, ataques e destruição de Igrejas e edifícios relacionados (escolas, hospitais, etc.) para um total de 4.488 casos em comparação com 9.488 no ano anterior.
Onde ocorre as perseguições
Aumenta para 12 o número de nações que revelam perseguições que podem ser definidas como extremas. As cinco primeiras posições permanecem inalteradas. Em primeiro lugar desde 2002 encontramos a Coréia do Norte e depois o Afeganistão, Somália, Líbia e Paquistão, onde a perseguição se manifesta na violência anti-cristã, mas também na discriminação nas diversas áreas da vida cotidiana dos cristãos, em represália à lei anti-blasfêmia. Neste quadro complexo condicionado por perseguições de diferentes origens - política, ideológica, étnica, religiosa, nacionalista - a pandemia tem evidenciado e agravado as vulnerabilidades sociais, econômicas e étnicas de milhões de cristãos no mundo. ¡°É evidente", continua o Relatório, "que se tornou um catalisador de atitudes opressivas e repressivas, muitas vezes ocultas". O Relatório 2021 destaca o caso da Índia, onde mais de 100.000 cristãos receberam ajuda de parceiros da Open Doors/Portas Abertas e 80% deles disseram aos pesquisadores da WWList que foram afastados dos centros de distribuição de ajuda.
Aumenta a violência doméstica
A pesquisa de Open Doors também se detém em um aspecto específico, o da violência doméstica, que devido ao confinamento, tem crescido exponencialmente. "Muitos convertidos à fé cristã ficaram isolados em casa com pessoas que hostilizavam abertamente a sua nova fé. Para milhões de cristãos, o trabalho, a educação e outros compromissos externos proporcionam alívio do controle doméstico e/ou agressão, bem como abuso físico, emocional, verbal e psicológico" esclarece o Relatório.
O diretor da ONG Open Doors, Cristian Nani explica ao Pope que muitos cristãos são considerados ¡°os últimos da fila¡± em muitos países.
Os critérios do relatório
"Não nos referimos apenas ao grau de violência que as comunidades cristãs podem sofrer em países onde existem formas de discriminação e perseguição", explica o diretor, "mas aprofundamos o tema do ponto de vista dos vários aspectos da vida do cristão. Estes são a vida privada, isto é, a relação íntima com a fé; a vida familiar e como viver a fé dentro dela; depois há a vida comunitária ou civil e consequentemente também o mundo do trabalho; e obviamente a vida nacional, isto é, que tipo de leis podem discriminar uma minoria cristã e finalmente a vida da Igreja, isto é, a possibilidade de que a comunidade de cristãos possa sofrer formas de restrição às atividades religiosas".
As matrizes da perseguição
O diretor Nani então apresenta as "nove matrizes" que são as causas das perseguição: a islâmica; nacionalismo religioso; antagonismo étnico; opressão tribal entendida como clã e família; fenômeno que se estende em muitos países africanos; protecionismo denominacional, ou seja, quando uma denominação cristã oprime outra; também opressão comunista e pós-comunista; a intolerância secular que se espalha em países tecnicamente mais livres como os Ocidentais; paranoia ditatorial; e por fim o crime organizado em países como Colômbia ou México.
Tendências emergentes
Além das consequências da Covid, algumas tendências surgiram em 2020, destacadas pelo próprio diretor Nani: "Aumentaram a violenta militância islâmica na África assim como as restrições e a vigilância das comunidades cristãs por parte dos governos mais autoritários. Outra tendência é o nacionalismo baseado em uma filiação religiosa majoritária que está crescendo em algumas nações como Turquia ou Índia; por fim a Covid que tem favorecido a consolidação de grupos criminosos como os narcos no México e na Colômbia que são uma fonte de perseguição contra os cristãos".
Cristãos, recurso para a sociedade
Neste contexto, o diretor falou do sofrimento dos cristãos de todas as confissões "que pedem para não serem esquecidos, também em termos de oração". "No nível das relações entre países, somos chamados - acrescenta o diretor - a levar em conta o estado de saúde da liberdade religiosa¡±. Concluindo, Cristian Nani destaca o fato de que, "embora a fé seja um fator de vulnerabilidade, ela também é um elemento na resolução de conflitos devastadores ou êxodos, porque as igrejas locais e os trabalhadores cristãos podem ser um recurso fundamental para trazer esperança e estabilidade".
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