“Fratelli tutti”. Bispo de Bragança-Miranda: tem uma enorme função social
Rui Saraiva
A nova Encíclica do Papa Francisco, “Fratelli Tutti”, “Todos irmãos”, é dedicada à fraternidade e à amizade social.
Fraternidade, desde o início
Francisco de Roma deixou-se inspirar por Francisco de Assis e colocou-se na esteira do futuro propondo um caminho de fraternidade.
Desde o primeiro dia do seu pontificado, que o Papa Francisco se apresentou ao mundo com a palavra “irmãos”. Logo ali na noite da sua eleição, em Roma, a 13 de março de 2013: “Irmãos e irmãs, boa noite!” – disse.
E lançou um desafio: “Comecemos este caminho, bispo e povo, um caminho de fraternidade e de confiança entre nós.”
Depois da Encíclica “Lumen Fidei”, em 2013 e da “Laudato Si”, em 2015, Francisco dirige-nos um grande desafio. O desafio da fraternidade proposta por Jesus: amar o próximo como a mim mesmo.
Mais simplicidade na mudança
A nova Encíclica, terceira do pontificado de Francisco, procura acender uma luz de esperança em tempo de pandemia.
Nesta edição continuamos a abrir um espaço de comentário partindo da Encíclica do Papa. Desta vez com D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda, em Portugal, que em entrevista ao Pope, destaca que o texto do Santo Padre tem uma enorme função social sendo um “dom semeador de mudança e de esperança”:
“A terceira Encíclica do Papa Francisco, “Fratelli tutti”, sobre a fraternidade e a amizade social é um dom semeador de mudança e de esperança à Igreja e ao mundo contemporâneo. E, como diz o Papa, é uma resposta aos sinais dos tempos que solicitam um desenvolvimento humano integral e a paz. S. Francisco de Assis continua a inspirar o Papa Francisco nas desafiantes propostas de uma forma de vida com sabor a Evangelho. A sabedoria do pobre de Assis exortava assim os seus irmãos à imitação de Jesus Cristo: ‘irmãos ponhamos todos diante dos olhos o Bom Pastor que para salvar as suas ovelhas sofreu a Paixão da Cruz’. Eu diria que a novidade também está aqui em traduzir, até com uma maior simplicidade, o Evangelho, dizendo que Deus dá sempre de graça. E é também interpelante o testemunho do beato Charles de Foucauld, o irmão universal, na conclusão deste caminho humano e espiritual. Por isso, esta Encíclica tem uma enorme função social.”
Para o bispo português a parábola do bom samaritano é o “fio condutor” da Encíclica do Papa Francisco. Considera que em tempo de pandemia é bom exercitar a reflexão com a questão: ‘quem é o meu próximo?’
“No tempo de pandemia, o uso da máscara exercita ainda mais o ouvir e o olhar. E o Papa Francisco cita Santo Agostinho para sublinhar esta contribuição peculiar de todos e de cada um. O ouvido vê através do olho e o olho escuta através do ouvido. E neste tempo de pandemia, em que revalorizamos a família, a comunidade e tantos valores que pareciam estar mais esquecidos é também a oportunidade desta questão fundamental do próximo: ‘Quem é o meu próximo?’. E a parábola do bom samaritano é aqui o fio condutor desta Encíclica social. Porque não se avança sem memória, como diz o Papa, olhando para Cristo como Bom Pastor. Nós somos também desafiados a perguntar: de quem é que eu me aproximo?” – perguntou o prelado.
Cultura do diálogo e política pelo bem comum
Para D. José Cordeiro é necessário responder ao apelo do Papa para um “testemunho real da cultura do diálogo inter-religioso”. Porque “a fraternidade tem muito para oferecer à liberdade e à igualdade”:
“A fraternidade tem muito para oferecer à liberdade e à igualdade. O dom da fraternidade humana universal compromete uma cultura consciente e constante desta mesma fraternidade universal, não num sentido geográfico, mas existencial do bem comum, da solidariedade e da gratuidade. O desafio maior é para uma cultura do diálogo e do encontro. A vida é a arte do encontro e a Encíclica é um grande apelo e um testemunho real da cultura do diálogo inter-religioso. O Papa referindo-se àquele grande texto do encontro entre as religiões e as culturas que pareciam tão distantes diz em nome de Deus que declaramos adotar a cultura do diálogo como caminho, a colaboração comum como conduta, o conhecimento mútuo como método e critério. E temos de curar as feridas e restabelecer a paz. Um outro grande Papa, S. Gregório Magno, dizia que nós temos que ‘amar os amigos em Deus e amar os inimigos por Deus’. E é desafiante o tempo que vivemos” – afirma.
O bispo de Bragança-Miranda sublinha que “cada um de nós é chamado a ser um artífice de paz”, promovendo “caminhos de diálogo” e não “erguendo novos muros”. E responde à questão: será que as grandes potências vão ouvir o apelo do Santo Padre?
“Certamente que sim. O Papa é muito ouvido e é tido como uma grande referência da liderança mundial. Agora se depois levam à prática isso já é outra conversa! Mas ouvido, acredito que sim. E a política melhor, como ele próprio refere exige a caridade social, exige a política ao serviço do verdadeiro bem comum. E cada um de nós é chamado a ser um artífice de paz, unindo e não dividindo. Extinguindo o ódio em vez de o conservar, abrindo caminhos de diálogo em vez de erguer novos muros. E somos todos chamados à comunhão com Deus e com os outros. O desafio permanente é o de caminharmos juntos, na fraternidade universal e na amizade social. Irmãos e irmãs, todos.”
D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda, comentando a Encíclica do Papa Francisco “Fratelli tutti”, “Todos irmãos”. Uma entrevista ao Pope realizada com a colaboração do Secretariado Diocesano para a Comunicação Social da diocese de Bragança-Miranda.
Na sua Encíclica o Santo Padre indica um caminho a percorrer, por uma fraternidade a procurar. O caminho de “uma única humanidade” no qual cada um traga o que tem para partilhar: “cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos” – escreve o Papa.
Laudetur Iesus Christus
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp