Cardeal Cl¨¢udio Hummes: ¡°A nova Confer¨ºncia Eclesial da Amaz?nia deve levar a s¨¦rio as decis?es do S¨ªnodo¡±
Joelma Viana - REPAM
Segundo trecho do comunicado, a proposta dos Padres sinodais de ¡° criar um organismo episcopal que promova a sinodalidade entre as Igrejas da região, que ajude a delinear o rosto amazônica desta Igreja e que continue a tarefa de encontrar novos caminhos para a missão evangelizadora¡± (DF, 115), e o pedido do Papa Francisco, unido a seus quatro sonhos para este território e para toda a Igreja, em sua exortação pós-sinodal Querida Amazônia, ¡°que os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis leigos da Amazónia se empenhem na sua aplicação¡± (QA, 4) encontrou uma resposta na Assembleia do Projeto de Constituição da Conferência Eclesial da Amazônia, realizada virtualmente nos dias 26 e 29 de junho de 2020. O presidente da REPAM e presidente da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia da CNBB Cardeal Cláudio Hummes, foi eleito presidente da Conferência Eclesial da Amazônia. Em entrevista ao Boletim da REPAM ele dá mais detalhes.
Dom Cláudio, em que consiste a Conferência Eclesial da Amazônia?
Card. Claudio Hummes: O Documento Final do Sínodo para a Amazônia propõe a criação de um organismo episcopal no território pan- -amazônico que assuma a aplicação do Sínodo na Amazônia. Em vista disso, foi recentemente elaborada em assembleia virtual a criação da Conferência Eclesial da Amazônia. A sugestão do nome e de sua natureza vêm do próprio Papa Francisco. Nesta assembleia virtual foi aprovado um Estatuto Canônico, eleita uma presidência e constituído um Comitê Executivo. Tudo isto foi já encaminhado ao Papa, porque é ele, através dos competentes Dicastérios, quem deverá reconhecer e erigir canonicamente esta Conferência. Ficamos aguardando agora esta aprovação do Papa. A conferência se denomina ¡°eclesial¡± e não ¡°episcopal¡±, porque dela participam não apenas bispos, mas também outras pessoas, inclusive leigos, mulheres, indígenas. Isso lhe dá uma caraterística sinodal bem explícita. ¡°Sinodal¡± no sentido que deve proceder não de cima para baixo, mas ir ao encontro, sair para as periferias, escutar e sempre de novo escutar, para então junto com as comunidades locais construir os ¡°novos caminhos¡± da Igreja no território. Será a primeira Conferência deste gênero na Igreja.
Quais as atribuições da Conferência episcopal e como ela irá trabalhar?
Card. Claudio Hummes: A própria natureza da Conferência, como acima exposto, define suas atribuições. Ela deverá ir ao encontro das comunidades locais, escutar e com elas construir o caminho do futuro da missão da Igreja na Amazônia. Ela terá, além da presidência, um secretário executivo e o Comitê Executivo, que coordenarão com a presidência os trabalhos. Concretamente, a conferência pode constituir comissões pan-amazônicas para, por exemplo, a) Inculturação; b) Defesa do território e promoção dos direitos dos povos ali presentes; c) Educação (escolas, universidade); d) Formação do clero; d) Preservação das culturas originárias dos povos indígenas; e) O diálogo inter-religioso e intercultural; f) e outras. A REPAM, por sua vez, continuará seu serviço de criar rede e fazer funcionar como rede, toda a Igreja da Amazônia, em vista de uma crescente sinodalidade, serviço que agora estará realizando junto com a nova Conferência.
Na ¡°Querida Amazônia¡± no número 48 destaca-se que ¡°o equilíbrio da terra depende da saúde da Amazônia¡±, isso consiste em se trabalhar uma ecologia integral. Como a Conferência irá tralhar para que se promova o cuidado com o meio ambiente na Amazônia?
Card. Claudio Hummes: Quem melhor cuida do meio ambiente amazônico, há séculos, são os povos originários, pondo em prática seu ideal de ¡°bem viver¡±, que pode chegar à sua plenitude nas bem-aventuranças do Evangelho. ¡°Bem viver¡± significa viver em harmonia consigo mesmo, com os seres humanos, com a natureza e com o ser supremo. Tudo está interligado. O grito dos pobres e o grito da terra é o mesmo grito, um grito socioambiental. A Igreja no Sínodo se declarou ¡°aliada¡± dos povos originários também na promoção do cuidado do meio ambiente, defendendo o território contra todos que devastam, degradam, depredam e vão embora com as malas cheias, deixando para a população local só a destruição e maior pobreza.
Outras questões no Documento final do Sínodo destacam a inculturação e o papel das mulheres. Como se pretende aprofundar esse debate a partir da Conferência?
Card. Claudio Hummes: A inculturação está no centro do processo pós-sinodal. Já o Santo Papa João Paulo II ensinava que a inculturação é indispensável e também que se trata de ¡°um caminho longo, que acompanha toda a vida missionária¡± e que, para realizar a inculturação, ¡°as comunidades eclesiais em formação [nas terras de missão], poderão exprimir progressivamente a própria experiência cristã em modos e formas originais, em consonância com as próprias tradições culturais, embora sempre em sintonia com as exigências objetivas da própria f顱 (RM, 52 e 53). Neste processo, é importantíssimo que, no caso dos povos indígenas, haja ministros ordenados indígenas que ajudem a guiar e construir esta inculturação. Quanto ao papel das mulheres na Igreja, o Sínodo acentuou fortemente que é preciso avançar na questão e, visto que a grandíssima maioria das comunidades missionárias amazônicas são dirigidas por mulheres, acolheu a proposta de elevar este ministério das mulheres a um ministério instituído, como os do leitor e do acólito, para dar- -lhe maior estabilidade e realce pastoral. A nova Conferência Eclesial da Amazônia deverá tomar a peito estas decisões do Sínodo.
Fonte: REPAM
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