Terra Santa: na Páscoa unidos contra o coronavírus
Giada Aquilino – Cidade do Vaticano
A oração em família e a unidade dentro da comunidade cristã, mas não só isso. A emergência do Covid-19 tem duas faces na Terra Santa. A do contágio, que entre Israel e Territórios palestinos chega a quase 10 mil casos e a que não impede de rezar e que leva a uma colaboração entre israelenses e palestinos para uma estratégia comum contra a difusão do Coronavírus. Entrevista com o administrador apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém, o arcebispo Pierbattista Pizzaballa.
Seu depoimento:
Dom Pierbattista Pizzaballa: Primeiramente precisamos de orações: fazemos isso sempre na Liturgia, mas hoje a liturgia é limitada. Mas isso não nos impede de rezar e principalmente recuperar um aspecto da nossa vida de fé que tínhamos um pouco abandonado, ou seja, a oração em família, também conservar a unidade, por quanto possível, não apenas entre a comunidade cristã, mas com todos, porque o que vimos é que este vírus não faz diferenças políticas, de raça ou de religião.
Como estão enfrentando a emergência nas zonas onde ainda não há paz, onde se sofre as consequências do conflito entre israelenses e palestinos? Pensemos em Belém, Gaza…
Pizzaballa: São situações muito diferentes. Mas apesar das legislações diferenciadas, todos estamos fazendo isolamento, fechamento total, tanto em Israel quanto na Palestina. Digamos que estamos unidos, a política não dividiu. Em toda essa situação há também um aspecto positivo, porque os palestinos e israelenses que há anos não se falavam agora então colaborando para encontrar uma estratégia comum para enfrentar este inimigo que é o vírus.
O que significa de fato o Coronavírus para os Lugares Santos, para os quais são cruciais os peregrinos de todo o mundo, tanto do ponto de vista da fé, quanto o da sobrevivência, econômico?
Pizzaballa: É uma novidade que nos preocupa. A última vez que vi os Lugares Santos totalmente desertos foi durante a segunda Intifada em 2002, todavia tinha alguma coisa aberta, havia um pequeno movimento. Hoje tudo está deserto, os Lugares Santos parecem sofrer junto com a população. Quanto ao aspecto econômico, podemos dizer que nos deixa muito preocupados, temos que considerar os próximos meses – pelo menos um ano segundo alguns – que viveremos nestas condições e isso será um grande problema para milhares de famílias.
Como a população reage?
Pizzaballa: As pessoas estão preocupadas e têm medo. Naturalmente há sensibilidades diferentes, mas as imagens que chegam do mundo, principalmente da Itália e o bloqueio total da economia local criou um sentimento de desorientação e angústia. Geralmente o medo chega quando se encontra um inimigo que conhece, enquanto que neste inimigo não se conhece, assim cria-se uma situação de maior desorientação.
As celebrações públicas no Santo Sepulcro estão suspensas. O Tríduo Pascal será celebrado na igreja do Patriarcado em árabe, ao vivo em streaming. Como são organizados os ritos?
Pizzaballa: A basílica do Santo Sepulcro está fechada, mas as cerimônias serão feitas do mesmo modo de sempre. Considerando que todas as paróquias – por causa das limitações pela pandemia – não podem fazer suas celebrações, pensamos que para manter a unidade, faremos as cerimônias na igreja do patriarcado comigo ou com o bispo auxiliar em streaming. Assim toda a comunidade de fiéis poderá acompanhar e rezar, com os seminaristas que farão um mínimo de animação. Os ritos são os previstos, obviamente com menos pessoas e todas as precauções possíveis.
Neste período de medo e desconforto, qual é o sentido da espera do Sábado Santo em Jerusalém para a Ressurreição?
Pizzaballa: São justamente nestas situações que devemos dar expressão ao que acreditamos firmemente. O nosso futuro se fundamenta na Ressurreição de Cristo, na força invencível daquele momento que é o início da nova história no mundo. O Coronavírus não deve bloquear a nossa fé em Cristo e no poder da sua Ressurreição. Estamos vivendo um momento de dor, um momento de silêncio. Portanto, deste silêncio podemos encontrar novas palavras, deste vazio poderá vir uma nova riqueza para a nossa vida, ou seja, voltar ao essencial, visto que não podemos fazer tudo, e reencontrar o que é o coração da nossa vida de fé, que é também a nossa vida social, eclesial, pessoal e familiar.
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