Presépio, “sinal admirável” para falar à nossa vida
Rui Saraiva – Porto
No domingo dia 1 de dezembro, I Domingo do Advento, o Papa Francisco assinou e apresentou a Carta Apostólica “Admirabile Signum”, “Sinal Admirável”, sobre o significado e valor do Presépio. Fê-lo em Greccio, na região do Lazio, na província de Rieti, a cerca de 100 quilómetros de Roma, no local onde, segundo a tradição, S. Francisco animou a representação da natividade a 25 de dezembro de 1223.
Efetivamente, foi nesse ano que S. Francisco de Assis decidiu celebrar a Missa de forma diferente, numa gruta na floresta de Greccio. O santo transportou para essa gruta um boi, um burro, feno e imagens do Menino Jesus, da Virgem Maria e de S. José.
Na sua Carta Apostólica, Francisco assinala que quer “apoiar a tradição bonita” das famílias cristãs que preparam o Presépio “nos dias que antecedem o Natal”. Um costume que Francisco deseja “redescobrir e revitalizar”.
Lugar onde os animais comem
O Papa recorda as palavras do evangelista Lucas que nos relata “alguns pormenores do nascimento de Jesus em Belém” destacando que Maria o “envolveu em panos e recostou numa manjedoura”. “Jesus é colocado numa manjedoura, que, em latim, se diz praesepium, donde vem a nossa palavra presépio” – frisa Francisco.
“Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer” – sublinha o Santo Padre dizendo que “a palha” foi a “primeira enxerga” de Jesus.
“A mente leva-nos a Greccio, na Valada de Rieti; aqui se deteve S. Francisco, provavelmente quando vinha de Roma onde recebera, do Papa Honório III, a aprovação da sua Regra em 29 de novembro de 1223. Aquelas grutas, depois da sua viagem à Terra Santa, faziam-lhe lembrar de modo particular a paisagem de Belém. E é possível que, em Roma, o «Poverello» de Assis tenha ficado encantado com os mosaicos, na Basílica de Santa Maria Maior, que representam a natividade de Jesus e se encontram perto do lugar onde, segundo uma antiga tradição, se conservam precisamente as tábuas da manjedoura” – refere o Papa.
Na sua Carta sobre o significado do Presépio, o Santo Padre escreve com pormenor, citando as “Fontes Franciscanas”, o que “aconteceu em Greccio” assinalando que na “representação do Natal”, daquele dia 25 de dezembro, as pessoas que a viram “manifestaram uma alegria indescritível”. O Papa escreve que Francisco de Assis “celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando também deste modo a ligação que existe entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia”.
Tocar a pobreza
“Com a simplicidade daquele sinal, S. Francisco realizou uma grande obra de evangelização. O seu ensinamento penetrou no coração dos cristãos, permanecendo até aos nossos dias como uma forma genuína de repropor, com simplicidade, a beleza da nossa fé. Aliás, o próprio lugar onde se realizou o primeiro Presépio sugere e suscita estes sentimentos. Greccio torna-se um refúgio para a alma que se esconde na rocha, deixando-se envolver pelo silêncio” – refere o Papa salientando que o Presépio “manifesta a ternura de Deus”.
“Em Jesus, o Pai deu-nos um irmão, que vem procurar-nos quando estamos desorientados e perdemos o rumo, e um amigo fiel, que está sempre ao nosso lado; deu-nos o seu Filho, que nos perdoa e levanta do pecado” – declara o Santo Padre.
Para o Papa, o Presépio é “um convite” a “tocar” a “pobreza” que o “Filho de Deus” “escolheu para Si mesmo”. Torna-se num “apelo” para “seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz”. Um caminho para ser vivido no serviço dos “irmãos e irmãs mais necessitados” – afirma.
Luz e novidade
O Papa refere na sua Carta Apostólica as figuras e os “vários sinais do Presépio” para “apreendermos o significado”. Desde logo, “o céu estrelado na escuridão e no silêncio da noite”. Precisamente, na noite que, por vezes, “envolve a nossa vida”. “Deus não nos deixa sozinhos”, mas a sua “proximidade traz luz onde há escuridão”.
As paisagens são também um sinal referido por Francisco, em particular, “as ruínas de casas e palácios antigos” que se tornam “habitação da Sagrada Família” em algumas representações. Estes cenários demonstram que “Jesus é a novidade no meio dum mundo velho” ao qual “veio para curar” a “nossa vida e o mundo”.
Pastores, humildade e coração
Destaque do Papa para a presença dos pastores no Presépio que são “os mais humildes” e os “mais pobres” que se põem a caminho rumo a Jesus, enquanto “tanta gente ocupada” não o faz.
Sinal importante no Presépio, para o Santo Padre, são também algumas figuras de “mendigos e pessoas que não conhecem outra abundância a não ser a do coração”.
“No Presépio, os pobres e os simples lembram-nos que Deus Se faz homem para aqueles que mais sentem a necessidade do seu amor e pedem a sua proximidade” – escreve o Papa sublinhando ainda que no Presépio há espaço para “toda a criatura”.
Maria e José
Na gruta do Presépio relevo essencial para “as figuras de Maria e de José”. “Maria é uma mãe que contempla o seu Menino” – frisa Francisco acentuando que a “sua figura faz pensar no grande mistério que envolveu esta jovem, quando Deus bateu à porta do seu coração imaculado”. Em Maria “vemos a Mãe de Deus” que “pede a todos que obedeçam” à Sua palavra.
S. José por sua vez assume uma “atitude de quem protege o Menino e sua mãe” – refere o Santo Padre. “É o guardião que nunca se cansa de proteger a sua família” que será “o primeiro educador de Jesus, na sua infância e adolescência”. José trazia no coração o grande mistério que envolvia Maria, sua esposa, e Jesus; homem justo que era, sempre se entregou à vontade de Deus e pô-la em prática – sublinha o Papa.
Um Menino nos nossos braços
“O coração do Presépio começa a palpitar, quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus. Assim Se nos apresenta Deus, num menino, para fazer-Se acolher nos nossos braços” – declara Francisco salientando que na sua “fragilidade” Jesus “esconde o seu poder”.
O Papa assinala que Deus renuncia “à sua glória para Se fazer homem como nós” e destaca a surpresa de vermos Deus que adota “os nossos próprios comportamentos” num Menino Jesus que “dorme, mama ao peito da mãe, chora e brinca, como todas as crianças”.
Francisco recorda ainda a figura dos Reis Magos que partem “de muito longe para chegar a Cristo” e visitam o Menino Jesus com “grande alegria” sem se escandalizarem com a “pobreza do ambiente”. Colocam-se mesmo “de joelhos” pois “compreendem que Deus” “guia o curso da história, derrubando os poderosos e exaltando os humildes”. E fazem “refletir sobre a responsabilidade que cada cristão tem de ser evangelizador” – escreve o Papa.
A Carta Apostólica de Francisco “Sinal Admirável” sobre o significado do Presépio sublinha que o que conta no Presépio é que ele “fale à nossa vida” e nos leve a transmitir a fé.
“A partir da infância e, depois, em cada idade da vida, educa-nos para contemplar Jesus, sentir o amor de Deus por nós, sentir e acreditar que Deus está connosco e nós estamos com Ele, todos filhos e irmãos graças àquele Menino Filho de Deus e da Virgem Maria” – escreve o Papa.
Laudetur Iesus Christus
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