Equador. Padre Moscoso, beato defensor da Eucaristia
Cidade do Vaticano
Neste sábado, dia 16 de novembro, será beatificado em Riobamba, no Equador, o sacerdote da Companhia de Jesus, Salvador Emilio Moscoso. Entrevistamos o cardeal Angelo Becciu, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos para nos falar sobre este novo beato.
O que o senhor pode nos dizer sobre este mártir, considerado o ¡°defensor da eucaristia¡±?
Cardeal Becciu: É uma esplêndida figura, testemunha mártir de Jesus, um sacerdote jesuíta, assassinado no Equador em 4 de maio de 1897. O crime ocorreu durante um ataque de tropas militares no centro educacional São Felipe, na cidade de Riobamba. Era um período de muitas perseguições contra a Igreja no contexto da Revolução Liberal do Equador.
Dos testemunhos sabemos que o novo Beato era um sacerdote simples, tímido, com paixão pelo ensino, mas que evitava cargos governamentais. Quando chegou a hora, teve coragem de ficar ao lado dos seus coirmãos e morrer com eles. Como se concilia uma pessoa reservada com a heroicidade e a força que demonstram os mártires?
Cardeal Becciu: Realmente era um sacerdote muito introvertido. Mesmo ocupando cargos importantes, professor ou reitor do colégio. Apesar da sua introversão e consciente do perigo que corria ao se encontrar diante da violência de seus agressores, padre Moscoso ficou no seu lugar. Até mesmo um dia antes da sua morte tinha ido, com total sentimento de responsabilidade, pedir a libertação dos coirmãos que ainda estavam no cárcere. Como explicar esta aparente contradição entre fragilidade humana e a força no terrível momento do suplício? Parece-me que isso seja uma constante de todos os mártires, dos mártires de Cristo, porque como dizia São Paulo aos Filipenses: ¡°Tudo posso n¡¯Aquele que me fortalece¡±. Não é tanto a força humana, mas é a graça de Jesus que dá a coragem de enfrentar estes terríveis momentos¡±.
Sabemos que quando padre Moscoso estava na prisão, junto com outros jesuítas, recebeu do Senhor o dom da força e da alegria transbordante para ajudar espiritual e moralmente seus coirmãos. No que consiste este dom?
Cardeal Becciu: É o dom que todos os discípulos experimentam. A primeira foi Maria, ao cantar o "Magnificat" e ao se sentir alegre diante da missão que Deus tinha lhe reservado. E assim também todos os outros discípulos sabem que Jesus não nos abandona, sabem que Jesus está conosco para sempre.
Já contamos várias histórias de mártires e de suas mortes, ma a do padre Moscoso impressiona muito. Os seus assassinos primeiro profanaram a igreja, depois o surpreenderam enquanto recitava o Rosário. Por fim o agrediram e o massacram encenando uma luta. Como pode existir tanta crueldade no coração dos homens e como podemos defender os nossos corações de tanta crueldade?
Cardeal Becciu: Tudo aconteceu de modo inexplicável. Com uma falsa acusação quiseram envolver algumas pessoas em pressupostos planos subversivos. Foi preso até mesmo um bispo, detidos alguns sacerdotes e entre estes também alguns jesuítas. Foi na casa dos jesuítas que se deu o confronto entre os grupos de rebeldes e os militares governamentais. Os jesuítas se refugiaram na Capela: não tinham nenhuma ligação com o combate, mas os militares no comando deram ordem de matá-los. Aqui também nos ajuda a Palavra de Deus: ¡°A ninguém pagueis o mal com o mal. Empenhai-vos em fazer o bem diante de todos. Na medida do possível e enquanto depender de vós, vivei em paz com todos. Se teu inimigo estiver com fome, dá-lhe de comer. Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal pelo bem¡±. É São Paulo que escrevia aos Romanos.
O Equador já conta com 3 Santos e uma Beata. Moscoso é o primeiro mártir equatoriano a subir às honras dos altares. Qual é a herança que o novo Beato deixa à Companhia de Jesus e aos homens de hoje?
Cardeal Becciu: O novo Beato oferece à sociedade de hoje uma significativa mensagem de fé, coerente até seus últimos dias e da extrema atualidade do amor de Cristo que por primeiro nos amou, até dar a vida por nós e nos pede para segui-lo no mesmo caminho. O exemplo dos que nos precederam é um dom a ser vivido e a seguir. O Papa Francisco recorda sempre e insiste em dizer que os mártires de hoje são mais numerosos que nos primeiros séculos da Igreja.
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