EUA. Retirada proposta de lei para abolir segredo da confiss?o
Cidade do Vaticano
Foram necessárias 140 mil cartas, 17 mil e-mails e centenas de telefonemas para convencer o Comitê para a segurança pública da Assembleia estatal da Califórnia, nos EUA, para retirar a proposta de lei, apresentada pelo senador Jerry Hill, em que se pedia a abolição do segredo da confissão sobretudo para os casos de abuso.
O que a norma pedia
Denominada SB 360, a norma tinha sido aprovada pelo Senado da Califórnia e pretendia modificar a definição de comunicação penitencial, de modo a permitir que a referência de um abuso durante a confissão fosse automaticamente denunciada às autoridades judiciárias, sobretudo se a declaração era proveniente de outro sacerdote ou de pessoas empregadas ou engajadas na Igreja.
Uma ameaça para a consciência de todo estadunidense
¡°A SB 360 era uma ameaça para a consciência de todo estadunidense. Se qualquer legislador pode obrigar os fiéis a revelar seus pensamentos e sentimentos mais íntimos partilhados com Deus na confissão, então realmente não há espaço da vida humana que seja livre ou protegido da intrusão do governo¡±, declarou o arcebispo de Los Angeles, Dom José Gómez, que guiou a mobilização.
Oposição também de outras religiões
Também os líderes religiosos muçulmanos, ortodoxos, luteranos, anglicanos, batistas, os representantes dos ritos católicos orientais e das Igrejas históricas afro-americanas se opuseram à proposta, os quais redigiram um documento comum em que se dizia, entre outros: ¡°Todos estamos unidos com os católicos estadunidenses em condenar o ataque à liberdade representado pela versão atual da proposta de lei SB 360¡±. Dom Gómez expressou a todos sua ¡°gratidão pessoal¡±.
Liberdade religiosa é fundamento da democracia
¡°A liberdade religiosa é um dos fundamentos da democracia estadunidense ¨C reiterou o prelado. Em caso algum pode ser aceitável que o governo interfira no modo em que as pessoas rezam ou vivem seu credo na sociedade. E uma ameaça à liberdade de uma fé será sempre uma ameaça para a liberdade de todos.¡±
Daí, a exortação do arcebispo de Los Angeles a todos os fiéis, a fim de que se continue ¡°trabalhando juntos para defender nossas liberdades e promover nossos valores, buscando construir uma sociedade justa, a serviço da dignidade da pessoa humana¡±.
A confissão é sagrada
O despertar da participação civil, os numerosos encontros que os católicos pediram aos representantes políticos para explicar sua posição levaram o Comitê a suspender a audição pública que precedia a aprovação definitiva.
¡°Agradecemos a Deus por ter contribuído para manter a confissão sagrada¡±, declarou o arcebispo de Los Angeles, exortando ao mesmo empenho radical para eliminar ¡°o flagelo do abuso, que infelizmente se encontra em todos os lugares na sociedade¡±.
Por fim, Dom Gómez recordou os procedimentos e os programas implementados em todo o Estado e dioceses californianas para garantir a segurança dos menores, protocolos rigorosíssimos, entre os quais o arquivamento das impressões digitais de todos os eclesiásticos e leigos engajados nas obras da Igreja, que ¡°permanece vigilante e totalmente comprometida na tutela dos menores e em ajudar as vítimas¡± de abusos, concluiu.
Nota da Penitenciaria Apostólica
Recorda-se que em 1º de julho a Penitenciaria Apostólica da Santa Sé difundiu uma Nota sobre a importância do foro interno e a inviolabilidade do sigilo sacramental, aprovada pelo Papa Francisco.
Na apresentação do documento, o penitencieiro-mor, cardeal Mauro Piacenza, explicou que, no contexto atual, por vezes se gostaria que o ordenamento jurídico da Igreja se ¡°conformasse ao dos Estados no qual vive em nome de uma pretensa retidão e transparência¡±.
Contrariamente, evidenciou o purpurado, deve-se recordar ¡°a absoluta inviolabilidade do sigilo sacramental¡±, fundada no ¡°direito divino¡± sem exceções, porque toda ¡°ação política ou iniciativa legislativa¡± voltada a ¡°forçar¡± a inviolabilidade do sigilo sacramental constituiria uma ¡°ofensa inaceitável à libertas Ecclesiae¡±, que não recebe sua legitimação dos Estados singularmente considerados, mas de Deus.
Defesa do sigilo sacramental não é conivência com o mal
Ademais, o cardeal Piacenza precisou que o texto da Nota ¡°não pode e não quer ser de modo algum uma justificação ou uma forma de tolerância aos execráveis casos de abusos perpetrados por membros do clero¡± e ressaltou:
¡°Nenhuma concessão é aceitável na promoção da tutela dos menores e das pessoas vulneráveis e na prevenção e contraste a toda forma de abuso¡±, porque ¡°a defesa do sigilo sacramental e a santidade da confissão jamais poderão constituir alguma forma de conivência com o mal¡±.
(Sir)
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