Índios: esquecidos e atacados
Cristiane Murray - Cidade do Vaticano
Entre os dias 5 e 12 de novembro, comissários e comissárias da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) voltaram ao Brasil, depois de 23 anos, para uma visita a aldeias em Altamira (PA), Santarém (PA) e Dourados (MS). A delegação esteve em quilombos, periferias de grandes centros urbanos, locais de acolhimento a migrantes e pessoas em situação de rua e outros locais de vulnerabilidade ou conflito social.
Após a visita, a Comissão, que é ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA), elaborou e divulgou um preliminar em que são ressaltadas a frequente violência contra indígenas e a negligência do Estado na demarcação de suas terras tradicionais.
A situação vivenciada pelos indígenas no estado de Mato Grosso do Sul, especialmente a dos povos Guarani e Kaiowá, foi destacada no relatório como uma “grave situação humanitária”. Para a CIDH, o confinamento destes povos em pequenas reservas superlotadas e os conflitos resultantes dessa política “privam o Guarani e Kaiowá de uma vida decente”.
Intolerância e violência têm aumentado nos últimos tempos
Na terça-feira (06/11), o líder indígena Reinaldo Silva Pataxó, de 40 anos, foi assassinado a tiros na aldeia Catarina Caramuru Paraguassú, em Pau Brasil (BA) e o indígena Ava-Guarani Donecildo Agueiro, de 21 anos, do Tekoha Tatury, sofreu atentado a tiros após sair de reunião da Coordenação Técnica Regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) sobre demarcação de terras indígenas na região de Guaíra, (PR).
No Mato Grosso do Sul, outros três ataques foram registrados ainda naquele dia. Em Dourados, 15 indígenas foram feridos em um ataque de balas de borracha a um acampamento ao lado de uma aldeia Bororo. Outros dois casos de ameaça foram reportados pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) no estado. Cerca de 40 caminhonetes fizeram uma carreata a uma retomada indígena em Caarapó, enquanto em Miranda, no Pantanal sul-mato-grossense, fazendeiros soltaram fogos de artifício e realizaram disparos de armas de fogo em direção a um assentamento.
Foi este acirramento dos conflitos envolvendo os povos indígenas no Mato Grosso do Sul a incentivar a visita da delegação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) à região sul do estado.
O testemunho de quem os defende, em nome da Igreja
Joana Aparecida Ortiz, franciscana de N. S. Aparecida em Campo Grande (MS), integra a coordenação do Regional do .
O Conselho apoia a questão indígena, principalmente os povos afetados gravemente pelo agronegócio e cujas terras estão atualmente “nas mãos de outros”, como ela afirma neste testemunho concedido ao Padre Luís Miguel Modino.
Nós como missionários e missionárias do CIMI apoiamos estes povos em suas decisões. Escutamos as suas demandas; nossa missão é fazer com que cheguem às autoridades, inclusive fora do país, para que suas terras sejam demarcadas. Um grande desafio no Mato Grosso do Sul é a demarcação das terras indígenas”.
Situação dos povos indígenas será foco do próximo Sínodo
Como anunciado pelo Papa Francisco, o bem-estar e a evangelização dos povos indígenas, "aquela porção do Povo de Deus muitas vezes esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno", estarão no centro das reflexões e propostas do próximo Sínodo Amazônico, marcado para outubro de 2019, no Vaticano.
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