Ap¨®s cem anos, russos se reapropriam da heran?a imperial
Delphine Allaire - Cidade do Vaticano
Na noite de 16 para 17 de julho de 1918, Nicolas II, a Czarina Alexandra e seus cinco filhos foram executados pelos bolcheviques, pondo fim assim a três séculos da dinastia Romanov à frente do Império Russo.
Longe dos tormentos do reinado de Nicolau II, a memória imperial começou a ser rememorada nos últimos anos, "graças a vontades políticas assumidas" de fazer redescobrir este patrimônio sepultado por setenta anos do bolchevismo, relata Pierre Lorrain, jornalista e escritor especialista em Rússia, afirmando que ele é amplamente constitutivo da identidade russa.
Nicolau II reabilitado pelo Supremo Tribunal
Esta execução constitui "uma das páginas mais vergonhosas da nossa história" declarou, por exemplo, o presidente russo Boris Yeltsin em 17 de julho de 1998, quando da exumação solene dos restos mortais da família imperial na Catedral de São Paulo de São Petersburgo. Em 2008, a Suprema Corte da Rússia reabilitou Nicolau II e sua família, julgando-os vítimas da repressão política bolchevique.
O fervor popular em torno desse período é cada mais premente na sociedade russa atual, observa o jornalista, tomando o exemplo da quantidade de livros sobre a família imperial que abundam nas livrarias de Moscou ou de São Petersburgo.
Procissão reuniu milhares em Ecaterimburgo
No último 17 de julho, às 4 horas da manhã, dezenas de milhares de peregrinos participaram de uma procissão na cidade russa de Ecaterimburgo, carregando 100.000 ícones por cerca de 20 km. Uma liturgia foi celebrada pelo Patriarca Kirill, acompanhado de todo o Santo Sínodo de Moscou.
No domingo, 15 de julho, o Patriarca de Moscou havia celebrado em Alpaïevsk, o rito da consagração da Igreja do Ícone da Mãe de Deus chamado de "Théodore", que havia sido abençoado por Michael I Fedorovich Romanov, fundador do Dinastia Romanov.
Nicolau II
Filho de Alexandre III, Nicolau II governou desde a morte do pai, em 1 de novembro de 1894, até sua abdicação em 15 de março de 1917, quando renunciou em seu nome e no nome de seu herdeiro, passando o trono para seu irmão, o grão-duque Miguel Alexandrovich.
Durante seu reinado viu a Rússia decair de uma potência do mundo para um desastre econômico e militar. Nicolau foi apelidado pelos críticos de "o Sanguinário" por causa da Tragédia de Khodynka, pelo Domingo Sangrento e pelos fatais pogroms antissemitas que aconteceram na época de seu reinado. Como Chefe de Estado, aprovou a mobilização de agosto de 1914 que marcou o primeiro passo fatal em direção à Primeira Guerra Mundial, a revolução e consequente queda da dinastia Romanov.
O seu reinado terminou com a Revolução Russa de 1917, quando, tentando retornar do quartel-general para a capital, seu trem foi detido em Pskov e ele foi obrigado a abdicar. A partir daí, o czar e sua família foram aprisionados, primeiro no Palácio de Alexandre em Tsarskoye Selo, depois na Casa do Governador em Tobolsk e finalmente na Casa Ipatiev em Ecaterimburgo.
Nicolau II, sua mulher, seu filho, suas quatro filhas, o médico da família imperial, um servo pessoal, a camareira da imperatriz e o cozinheiro da família foram executados no porão da casa pelos bolcheviques na madrugada de 16 para 17 de julho de 1918. É conhecido que esse evento foi ordenado de Moscou por Lenin e pelo também líder bolchevique Yakov Sverdlov. Mais tarde Nicolau II, sua mulher e seus filhos foram canonizados como neomártires por grupos ligados à Igreja Ortodoxa Russa no exílio.
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