Fr. Gilberto, defensor das vidas e amea?ado de morte
Cristiane Murray - Mariana
Frei Gilberto Teixeira da Silveira, nascido em Mauá (SP) e morador em Belisário (MG) é sacerdote franciscano, formado em Filosofia, Teologia e Psicologia, com pós-graduação em Agroecologia. Ele é o coordenador das Pastorais Sociais da Diocese de Leopoldina.
Em Belisário, fundou a Fraternidade dos Franciscanos de Santa Maria dos Anjos: leigos comprometidos com as causas agroecológicas, de preservação da natureza e de produção agrícola desvinculada do uso de agrotóxicos nesta área de imensas riquezas naturais, principalmente a água.
¡°Estamos no entorno da Serra do Brigadeiro, que é uma importante reserva de Mata Atlântica que vem sendo ameaçada porque temos lá também a segunda maior reserva de bauxita do Brasil. Existe a intenção de minerar esta região, que é uma região muito importante para Muriaé e toda a região, pela produção de água. Em Belisário hoje já conseguimos cadastrar mais de 2 mil nascentes dentro do território do distrito. É uma região de pequenos produtores, de agricultura familiar e de turismo, bela beleza da serra e tudo mais. Nós entendemos que a chegada da mineração constitui um grande problema para todo o conjunto de vida ali¡±.
A luta em defesa da agricultura familiar, de nossas águas e florestas, custou a Frei Gilberto uma ameaça de morte, em 19 de fevereiro deste ano, e atraiu para Belisário os holofotes de ambientalistas, políticos, bispos, padres e principalmente, da imprensa.
¡°Eram 11h da manhã e fui abordado na casa paroquial por um homem armado que disse que ¡®vinha dar um recado¡¯, que não era para eu me assustar, que era só um recado para eu não ficar mais falando em mineração. Eu estava falando muito deste assunto e não era mais para eu dizer nada sobre a mineração. Estava começando a e eles não queriam ver eu falando deste tema durante a Quaresma. ¡®Não queremos mais¡¯. Aí descreveram toda a minha semana, o que eu tinha feito durante a semana, para mostrar ¡®Nós estamos te seguindo, toma muito cuidado. De fato, foi uma ameaça muito agressiva, um homem armado que veio me calar. Só que a intenção deles acho que foi frustrada porque no dia seguinte à ameaça, a notícia vazou na Internet e nós achamos por bem que a melhor defesa seria dar visibilidade, o quanto mais divulgado fosse mais segurança eu teria...".
"Naquela semana mesmo, o bispo de Leopoldina escreveu uma carta falando da ameaça que eu havia sofrido, repudiando-a, e mais de 70 movimentos que trabalham em defesa do meio ambiente e na luta contra a mineração fizeram também um manifesto que foi divulgado.Com isso, a imprensa começou a noticiar; tivemos um assédio muito grande da imprensa em Belisário, de canais de TV, de jornais em nível nacional. (O episódio) ganhou uma repercussão muito grande e isso deu muita força ao movimento. De lá para cá, Belisário mudou muito porque a nossa luta lá passou a ser não apenas a luta do povo de Belisário. Muita gente tem ido lá e tem mostrado solidariedade, temos feito muitos encontros e assembleias, que têm mobilizado muito a comunidade. Então, a ameaça de fato se reverteu numa mobilização maior, numa solidariedade maior e deu muita força ao movimento de resistência¡±.
A entrevista é de Pe. Dario Bossi, com a colaboração de Pedro Sanchez.
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