Um balan?o altamente positivo e gratificante
Dulce Araújo - Pope
Foram sete dias de conferências, diálogos, teatro, visita a escolas, lançamento e exposição de livros, visitas com pano de fundo literário a lugares sugestivos como as Salinas de Pedra de Lume, património nacional. Tudo protagonizado por dezenas de oradores de vários países (Angola, Guiné-Bissau, Brasil, Portugal, Itália, França...) entre os quais académicos, escritores, estudiosos e companheiros de Amílcar Cabral, tanto no Colóquio sobre o seu centenário de nascimento (12/9/1924) como na VI edição do Festival de Literatura Mundo do Sal em que foi analisado do ponto de vista literário, pois que foi poeta e autor de vários escritos. Um duplo evento que deixou imensamente satisfeitos os organizadores: o trio formado pelo escritor Filinto Elísio e pela Professora Márcia Souto da Rosa Porcelana Editora (produtora do evento) e pela Professora Inocência Mata, curadora científica.
Um acontecimento de alto valor cultural sobre um personagem, Amílcar Cabral, que fez da cultura o cerne da luta de libertação pelo qual deu a vida (foi assassinado a 20/1/1973), e que, pela sua grandeza humana, estratégica, ideológica, foi este ano o único homenageado do Festival. Geralmente são dois, um cabo-verdiano e um estrangeiro.
A Rádio Vaticano/Pope que foi informando sobre o decorrer do encontro, não podia deixar de apresentar um balanço no seu programa semanal ¡°África em Calve Cultural: personagens e eventos¡±. E fê-lo através da voz de quatro mulheres, Márcia Souto, Inocência Mata, Ana Paula Tavares e Samira Lélis, entrevistadas no último dia do Festival por Thulio Donizete Fonseca da Silva que, para além de ter feito no Colóquio uma comunicação sobre ¡°A Audiência do Papa Paulo VI a Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos¡±, fez também, enquanto jornalista da Rádio Vaticano, uma ampla cobertura do evento.
Uma experiência enriquecedora do ponto de vista humano e de conhecimentos
De volta à Rádio, o Thulio disse que foi para ele uma experiência que o enriqueceu humanamente e que abriu a sua visão. Ficou particularmente tocado pela visita às escolas, pelo contacto com as pessoas e com a cultura africana. Sentiu a falta de não ter estudado nada no Brasil sobre esses países. De Cabral retém sobretudo o seu ideal de paz e solidariedade, mas também o seu ser poeta, não obstante as adversidades. Uma figura importante para o mundo de hoje - considera o Thulio que vê na poesia um sinal de esperança para o mundo e para ele próprio.
Balanço altamente positivo
Márcia Souto, Mestre em Literatura de Língua Portuguesa, com Dissertação sobre o escritor moçambicano, Mia Couto, é co-fundadora e gestora, juntamente com o escritor Filinto Elísio, da Rosa de Porcelana Editora, e como tal organizadora do duplo evento do Sal.
Para ela esse duplo evento foi desafiador. Mas graças a todos os que acalentaram a ideia, o balanço é altamente positivo. Foram postos em realce as diversas facetas de Amílcar Cabral, grande pensador, em relação ao qual a Rosa de Porcelana permanece aberta a publicações, como vem fazendo desde 2016. Quanto à importância da relação entre o Festival e as escolas, Márcia Souto considera que um festival no Sal, não pode deixar de fora os salenses; esse diálogo é, por isso, fundamental. Além disso, para ela, Cabral é um pensador que ¡°norteia a nossa atualidade¡± e que está sempre presente na sua vida.
Gratificante
¡°Gratificante¡± é a palavra que usa a Professora Inocência Mata, Docente de Literatura na Universidade de Lisboa, para descrever o duplo evento do Sal de que foi Curadora científica. Para além de companheiros de Cabral, ela exalta também ter havido estudiosos, como Julião de Sousa, da Guiné-Bissau, que ajudaram a descobrir as múltiplas faces de Cabral. Acentua também a necessidade de Cabral ser dado a conhecer às novas gerações para que não se perca o seu legado, tão importante nos dias de hoje em que as diferenças se transformam muitas vezes em antagonismos. ¡°Cabral, mais do que nunca tem de estar presente¡± - afirma, elevando o pensamento, de modo particular, à Guiné-Bissau. ¡°É bom que os jovens conheçam a história da Guiné e de Cabo Verde¡±.
As independências custaram suor e lágrimas
Em relação à edição do Festival do próximo ano, Inocência Mata adianta que será centrada sobre os 50 anos de independência dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e que serão celebrados escritores/as desses países. Malgrado tudo, é preciso ¡°reafirmar a importância das independências¡± pois que ¡°custaram suor e lágrimas¡±.
Um grande sentimento de paz e gratidão
Ana Paula Tavares, poeta angolana, historiadora, antropóloga e Professora na Universidade de Lisboa, foi uma das intervenientes na mesa de reflexões e debates sobre novas tipologias, outros protótipos textuais e os cânones literários. No final do Festival tomou a palavra para agradecer em nome de todos os participantes. Ao Thulio confiou que o evento lhe deixou um sentimento de paz e gratidão. Retomar Cabral e fazer com que tudo quanto ele disse continue a ser ensinado é importante, segundo Ana Paula Tavares que enaltece o facto de ter havido teatro. Ela sublinha ainda a felicidade de os PALOP terem tido na sua fundação um pensador como Cabral. Respondendo às perguntas do Thulio, esta poeta angolana frisa também a importância da poesia como forma de suscitar nos jovens a consciência da necessidade de construir ¡°um mundo para todos¡± - diz citando o Papa Francisco.
Grande emoção
Também Samira Lélis, economista, mas que se lançou na escrita quase que por acaso e através do uso da internet, revelou em entrevista à Rádio Vaticano a sua grande emoção por ver agora publicado e lançado o seu primeiro livro ¡°No encanto da Ilha¡± com que venceu no ano passado a primeira edição do ¡°Prémio Lhana¡± erigido pelo Festival de Literatura Mundo do Sal. A presença de Deus na sua vida e também no livro é evidenciado por ela ao falar do que o leitor pode encontrar nessas páginas que são de algum modo uma viagem. Um livro que ela vê como que um ressignificar a sua vida num momento invulgar. Fica também o seu convite aos jovens a não desdenharem o caminho da escrita literária também através de meios como a internet para a difusão.
Caiu assim o pano sobre o Colóquio Centenário de Amílcar Cabral e a VI edição do Festival de Literatura Mundo do Sal que o homenageou como poeta e escritor. O duplo eventou contou com a intervenção do Presidente da República, José Maria Neves, e do Primeiro Ministro, Ulisses Correia e Silva, respectivamente na abertura no encerramento do Colóquio. Não faltou também na abertura e encerramento do evento o Presidente da Câmara Municipal do Sal, Júlio Lopes e ainda, no encerramento, o Ministro do Turismo e Transportes de Cabo Verde, Carlos Santos.
Para além deste importante evento no Sal, o Centenário de nascimento de Amílcar Cabral continua a ser assinalado pelo mundo com diversos eventos.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp