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Falta, Maimouna e Bossoni, tr¨ºs v¨ªtimas de Boko Haram. Desejam permanecer an¨®nimas por quest?es de seguran?a Falta, Maimouna e Bossoni, tr¨ºs v¨ªtimas de Boko Haram. Desejam permanecer an¨®nimas por quest?es de seguran?a  

Boko Haram - A hist¨®ria de tr¨ºs mulheres v¨ªtimas nos Camar?es

Embora ainda n?o tenha sido publicado nenhum relat¨®rio oficial sobre o n¨²mero exato de v¨ªtimas mortais desde 2013, as mulheres est?o a pagar o pre?o mais elevado desta guerra. A falta de seguran?a afeta sobretudo as mulheres, devido ¨¤ sua vulnerabilidade, nessa parte do pa¨ªs. A sua sa¨²de mental, f¨ªsica, sexual e at¨¦ reprodutiva ¨¦ assim profundamente afetada. Apesar deste sofrimento, permanecem de p¨¦ com uma capacidade de resili¨ºncia incompar¨¢vel.

Augustine Asta ¨C Em Maroua, extremo norte dos Camarões

É a história de três mulheres de origens diferentes, mas cujas vidas tomaram um rumo semelhante. O denominador comum: as atrocidades da seita terrorista Boko Haram que todas sofreram, em Kolofata, cidade do extremo norte dos Camarões.

¡°Foi como se a terra tivesse caído sobre a minha cabeça¡±

Uma delas é Fatna. Ela foi acordada no meio da noite pelo filho, de 22 anos, dizendo ¡°mãe, mãe, alguém está a bater à porta¡±. Ela levantou-se. O marido dela também. O rapaz abriu a porta e os inesperados visitantes imediatamente o sequestram, enquanto diziam com uma voz quase diabólica: ¡°A partir de hoje você já não tem filho¡±. Depois cortaram-lhe a garganta sob o olhar impotente dos seus pais, que só tinham olhos para chorar. Na ocasião, o pai teve de salvar a própria vida: fugiu, deixando a sua esposa sozinha a enfrentar os terroristas. ¡°Fiquei ali a olhar para o meu filho que estava caído num poço de sangue. Eu estava lá à frente do seu cadáver. O seu corpo inanimado. Foi como se a terra tivesse caído sobre a minha cabeça naquele dia. O meu mundo desabou e o que me dói é não ter podido fazer nada. Eu não pude fazer nada! O meu filho morreu à minha frente¡­ eu já não tinha gosto pela vida¡­ eu também queria morrer¡­¡± diz Fatna, a tremer e com os olhos cheios de lágrimas.

Todo o mundo estava a fugir da aldeia

Maimouna, jovem recém-casada e mãe de dois filhos, assiste a mais um espetáculo digno de um filme de terror. Membros da seita terrorista Boko Haram invadiram a sua aldeia em plena noite. Os rebeldes sequestraram o seu marido e, diante de seus olhos, cortaram-lhe a garganta. Para sobreviver, ela teve que usar a pouca força que lhe restava para fugir. ¡°Não sei como consegui escapar daquele dia atroz. Uma data que nunca hei de esquecer na minha vida. Quando mataram o meu marido, pus-me a correr com os meus dois filhos, um de três anos e outro de um ano. Corri o mais que pude. Todos estavam a fugir da aldeia e a correr para o mato. E como era época de chuvas, chegamos a um lugar onde havia um rio que não conseguíamos atravessar. Tivemos de esperar um pouco e quando a água baixou, começamos a travessia, havia muita gente. Eu tinha dois filhos, pus o menor às costas e levava o mais velho pela mão. Mas, a correnteza era muito forte e arrastou o meu filho de um ano que eu levava às costas. Porém, continuei a travessia e cheguei ao outro lado do rio. Eu estava exausta, não tinha mais forças e como já estava num lugar seguro, procurei um aconchegozinho para me deitar com o meu filho de três anos. Consegui fechar os olhos por um momento e de manhã cedo, quando acordei, percebi que a única criança que tinha conseguido salvar também estava morta... Perdi todos os membros da minha família naquele dia, conta Maimouna, bastante pálida, emocionada.

O testemunho de uma ex-refém

Bossoni é também uma antiga refém de Boko Haram. A jovem, de apenas 18 anos, foi raptada, confinada, torturada e violada por membros de Boko Haram ao longo de quase cinco anos. ¡°Eu estava sozinha à mercê desses bárbaros. Dias e noites inteiros nas mãos desses terroristas. Queria estar perto dos meus pais, dos meus irmãos, das minhas irmãs e também dos meus amigos. Mas fui mantida em cativeiro por homens que me arrancaram brutalmente ao afeto da minha família¡±, diz ela com um olhar sombrio. ¡°Eu me encontrei num lugar completamente desconhecido e selvagem. Fui estuprada e espancada. Me deixavam passar fome. Sofri abusos que vocês nem imaginam. Um dia, assim que tive oportunidade, fugi. Corri. Não sabia para onde estava a ir, mas sabia que tinha de fugir. Corri noites inteiras, percorrendo caminhos perigosos, atravessando a floresta e o mato, à mercê das feras e principalmente desses homens cruéis que me perseguiam e que procuravam a todo o custo apanhar-me. Sabia que tinha de me salvar porque se por azar me apanhassem, me submeteriam a outras atrozes torturas até a morte¡±, conta Bossoni.

As palavras de Fatna, Maimouna e Bossoni, (nomes fictícios) resumem o trauma que continua a corroer estas mulheres. Histórias tão atrozes, quão revoltantes. Embora os factos remontem a quase uma década, a dor ainda é intensa. Tal como estas três mulheres com um destino comum, várias outras vivem a mesma realidade desde o início desta prolongada crise. Há cada vez mais mulheres que perderam um ou mais entes queridos. Da noite para o dia, elas viram as suas vidas passarem da luz, à escuridão, com danos morais significativos e choque psicológico.

A resiliência dos sobreviventes

No auge da crise de segurança, muitas mulheres vítimas de extremismo violento nessa região do norte dos Camarões optaram por enfrentar a adversidade. Muitas preferiram organizar-se, por exemplo, numa associação ou num pequeno grupo para encontrar forças para se apoiarem umas às outras. ¡°Na nossa associação denominada ¡°Coração de Mãe¡± nos ajudamos muito umas às outras, nos apoiamos. Desafios comuns levam-nos a nos unirmos para ajudar outras sobreviventes. É mais fácil enfrentar essa fase estando juntas, porque quando se tem à frente uma pessoa que passou pela mesma situação, percebe-se que não se está sozinha a vivenciar essa realidade. E isso dá força para seguir em frente¡±, diz Maimouna.

Lágrimas transformadas em armas

E Bossoni acrescenta: ¡°Desde que nos encontramos no âmbito das atividades da nossa associação, percebi que as nossas lágrimas se transformaram em arma. Sentimo-nos mais fortes para enfrentar o futuro. Queremos ver as coisas de forma diferente, aceitando o que aconteceu connosco.¡± A vida não tem sido muito dócil para com essas mulheres que, aos poucos, vão aceitando a realidade pela qual passaram. Tentam assim recuperar o gosto pela vida, saindo do desespero, tentando curar as feridas do passado, para viver um presente com mais otimismo. Uma vida que certamente nunca mais será a mesma, mas que deve continuar, através da resiliência.

Mulheres são mais vulneráveis a situações de terrorismo
Mulheres são mais vulneráveis a situações de terrorismo

Boko Haram manifestou-se pela primeira vez nos Camarões a 19 de fevereiro de 2013 com o sequestro da família francesa Moulin-Fournier, em Dabanga, no extremo norte do país. Seguiu-se uma série de raptos antes da fase de ataques suicidas em Maroua e de ataques armados em certas zonas de conflito, em 2014.

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21 junho 2024, 14:31