Iva Cabral satisfeita com a efervesc¨ºncia para o centen¨¢rio do pai
Dulce Araújo - Pope
A sensação com que se fica no final da entrevista com Iva Cabral, convidada do Programa semanal da Rádio Vaticano ¡°África em Clave Cultural: personagens e eventos¡± do dia 9 de maio de 2024, é a de uma pessoa crítica, mas serena, otimista e confiante quanto ao futuro de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, países para cujas independências o pai, Amílcar Cabral, lutou, não obstante todas as adversidades, até à morte. Será esse otimismo uma herança do pai? Não sabemos, não nos ocorreu fazer-lhe a pergunta, mas o certo é que a sugestão do pai de estudar História não lhe causa nenhum arrependimento e uma das suas maiores satisfações é ter feito parte da elaboração da ¡°História Geral de Cabo Verde¡±, assim como o de ter sido Reitora da Universidade Lusófona de Cabo Verde.
Ensinar a História e favorecer a investigação histórica
No que toca à História, diversos pontos emergem da entrevista: a sua visão crítica em relação ao inadequado ensino desta disciplina nas escolas, embora no plano da investigação a situação seja mais animadora; a necessidade da reescrita da História numa visão africana e não na que o colonizador ¡°inventou para nós¡± e que não é nada abonatória da África, e ainda a oportunidade de colocar a descolonização da História da África no plano da cooperação com a Europa e no âmbitos do discurso sobre as reparações, atualmente bastante vivo. A obrigatoriedade da reafricanização da História seria, a seu ver, ¡°a maior reparação.¡±
Igreja Católica e a luta de libertação dos PALOP, ontem e hoje
Quanto à Igreja Católica, Iva Cabral sublinha a importância que teve a audiência, em 1970, do Papa Paulo VI aos líderes dos Movimentos de Libertação das então colónias portuguesas em África. Agora, com o Papa Francisco, que ela muito preza, gostaria que fossem abertos arquivos do Vaticano relativos à África ¡°para podermos estudar melhor o nosso passado.¡±
Cultura
É sabido que para Amílcar Cabral, a luta de libertação era uma luta que tinha como perno a cultura. Solicitada a exprimir-se sobre a forma como vê as políticas culturais hoje nos dois países, Iva Cabral explica que História e Cultura caminham juntas. Se uma vai mal a outra não pode estar melhor. Contudo, tem havido progressos desde as independências, mas não se pode ficar pela promoção da música e artes plásticas. Há que fazer com que a cultura ajude a resolver ¡°certos problemas cognitivos de nós mesmos¡± - diz em relação a Cabo Verde, enquanto que no que toca à Guiné, alegra-se com a ¡°movimentação cultural extraordinária¡± que se nota.
50 anos de independência
Outro capítulo da entrevista é o meio século das independências da Guiné-Bissau (2023) e de Cabo Verde (2025). Um momento de balanço em que no prato dos ganhos, esta Historiadora coloca a oportunidade que elas trouxeram de esses povos serem protagonistas da sua História; e no prato dos desafios, a desigualdade socia-económica que não cessa de crescer. ¡°Tem de haver uma nova política, novos combates, novos líderes que possam lutar contra essa desigualdade.¡± E como Historiadora, a primogénita de Cabral mostra-se esperançosa de que essas crises sejam uma oportunidade de renovação.
Desmistificar Cabral e humanizá-lo
Rebatendo na tecla do Centenário de Amílcar Cabral, Iva sublinha, sorrindo, que vai ¡°ocupar um lugarzinho nesses festejos com muito orgulho e muita satisfação¡±, a mesma satisfação que manifesta ao constatar o enorme e, a seu ver, valioso envolvimento da sociedade civil em iniciativas para marcar os cem anos de nascimento do seu pai; pai, cujas cartas à sua mãe, Maria Helena Vilhena Rodrigues, nos anos 40, ela fez questão de publicar para mostrar aos jovens que ¡°líder não se nasce, mas se constrói¡±, contribuindo assim para ¡°desmistificar¡± a figura de Cabral e humaniza-lo, dar a conhecer o seu pensamento.
Falou-se ainda nesta entrevista da Unidade entre a Guiné e Cabo Verde, assunto - sublinha - a ser estudado, esclarecido, avaliado para se tirar eventuais lições para a África de hoje, tão necessitada de ¡°unidade e luta¡± para ultrapassar os desafios que tem pela frente. Iva está, todavia, convencida que ¡°a História dará razão a Cabral¡±, pois a ¡°África não pode continuar sem uma união séria¡±.
Centenário, palco de inovação e criação
Por fim, Iva Cabral vê no centenário de nascimento do pai ¡°um palco de novidades e criação¡± e considera ainda que o cinquentenário da independência deve ser festejado com muita força em Cabo Verde, país de que Cabral se orgulharia pelo que tem feito da sua independência, e quanto à Guiné recorda, entre outros aspetos, que viveu no seu território onze anos de luta, que não tinha uma burocracia organizada, que tem uma grande diversidade humana e cultural, mas que ¡°vai ter um grande futuro, minha senhora, tenho a certeza.¡±
Para os pormenores, siga em baixo a entrevista e a emissão ¡°África em Clave Cultural: personagens e eventos¡± que inclui o retrato biográfico da entrevista, feita por Filinto Elísio, da Rosa de Porcelana Editora e intitulada, ¡°Iva Cabral ¨C Historiadora, Professora e Combatente das Pátrias da Guiné-Bissau e de Cabo Verde¡±.&²Ô²ú²õ±è;
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