䲹õ. Na região anglófona, as mulheres se unem para pedir cessar-fogo
Cidade do Vaticano
É uma guerra civil que dura desde 2016 nas regiões de língua inglesa dos Camarões. Combatentes independentistas anglófonos, denominados Amba Boys, querem fundar o seu próprio território no Noroeste e Sudoeste dos Camarões, a Ambazónia.
No terreno, a população está apanhada entre a violência dos independentistas e a das autoridades. Segundo números de 2019 das Nações Unidas, mais de 3 mil civis já foram assassinados e mais de 2 milhões precisam de assistência humanitária nesta região devastada pela guerra. Os abusos contra a população são frequentes e seus vídeos agitam regularmente as redes sociais.
Nos Camarões, o sistema educacional cristaliza as tensões
Por exemplo, nas últimas semanas, segundo o Centro para os Direitos Humanos e a Democracia em África (CHRDA, sigla em inglês), um homem com cerca de quarenta anos de idade foi torturado porque usava uma máscara de protecção, em Bamenda uma jovem foi assassinada, na mesma cidade um professor morreu no hospital depois de ter sido crivado de balas. Além disso, muitas crianças são recrutadas pelos independentistas para se tornarem soldados. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que 600 mil pessoas tiveram que abandonar as suas casas para fugir da violência. As crianças não são poupadas pelo conflito, segundo o UNICEF, 855 mil delas estão privadas da educação.
É por todas estas razões que, "convencidas de que, como mulheres, nós suportamos o peso deste violento conflito, independentemente do nosso contexto histórico, da nossa pertença cultural, linguística e política", várias organizações de mulheres anglófonas - SNWOT (Grupo de Trabalho das mulheres do Sudoeste e Noroeste), o SCEW (Mulheres Europeias do sul dos Camarões), o PCC (Grupo de Mulheres Cristãs), o UMWAC (Grupo Metodista) e o CBCWD (Departamento das mulheres da Convenção Baptista dos Camarões) publicam neste dia 21 de setembro um apelo ao cessar-fogo.
Fazer participar as mulheres nas negociações
“Nós, as mulheres”, lê-se no comunicado, “exortamos as partes em conflito a respeitar a vida e a dignidade humanas e a proteger a população para evitar um número alarmante de mortos; a cessar imediatamente todas as hostilidades por parte de todos os actores armados. Nós esperamos que todas as partes anunciem a cessação das hostilidades nos próximos 30 dias”.
As mulheres anglófonas exigem, portanto, um acordo de cessar-fogo por parte dos independentistas e do governo, escrito até novembro de 2020 e um "cessar-fogo piloto de seis meses", que respeitaria cada facção, bem como o estabelecimento de um comité de monitoramento local e internacional, composto de pelo menos 50% de mulheres. Concretamente, as organizações pedem igualmente a criação de "uma comissão inclusiva e equilibrada em termos de género a ser criada para as negociações da paz tendo em consideração as especificidades do género"; "os grupos devem também vigiar no equilíbrio do género para uma representação efectiva”, e também a formação de um grupo de reflexão com os membros do governo, as facções armadas independentistas e a sociedade civil.
Apelo ao governo
Por outro lado, as mulheres anglófonas unem a sua voz para pedir ao governo dos Camarões uma "negociação de paz inclusiva e sincera para enfrentar as causas profundas do conflito com todas as facções para o bem da população em dificuldade nas áreas afectadas pelo conflito”.
Eleições em risco
O estabelecimento de um cessar-fogo é indispensável, sobretudo porque o presidente Paul Biya fixou esta segunda-feira para 6 de dezembro as primeiras eleições regionais no País, especialmente nas zonas anglófonas. Mas a votação é rejeitada por uma parte significativa da oposição que pretende boicotá-la.
Esta votação indirecta nas dez regiões camaronesas deveria permitir o estabelecimento de conselhos regionais previstos na constituição de 1996 para promover a descentralização, mas na prática tal votação nunca foi realizada no País. Estes conselhos, nas duas regiões anglófonas do Noroeste e do Sudoeste, deveriam também ser dotados de um estatuto especial prometido em outubro de 2019 pelo presidente Biya, numa tentativa de diálogo.
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