Padre Jaquité: de muçulmano a sacerdote católico
Rui Saraiva – Porto
Keylândio Abdulai Jaquité nasceu muçulmano mas é sacerdote católico desde 12 de outubro de 2002, na Guiné-Bissau, um país onde os cristãos são apenas cerca de 20% da população.
O padre Jaquité esteve 2 anos em Portugal para concluir um mestrado em psicologia na Universidade Católica e, ao mesmo tempo, foi vigário paroquial na Paróquia do Santíssimo Sacramento na diocese do Porto. Está agora de partida para a Guiné-Bissau e em entrevista aborda esta experiência portuguesa e apresenta o seu testemunho de vida.
P: Esteve agora nesta experiência de estudos e também na Paróquia do Santíssimo Sacramento no Porto, de cerca de 2 anos, já tinha estado na diocese do Porto numa outra experiência de 6 anos, que balanço pode fazer nesta altura em que está quase de partida para a Guiné-Bissau?
R: Tive uma experiência positiva. Da outra vez tive uma experiência de 6 anos a viver na comunidade paroquial de São Martinho de Lordelo do Ouro e naquela altura não tinha nenhumas responsabilidades pastorais. Agora estou aqui na Paróquia do Santíssimo Sacramento numa experiência mais prática, como vigário paroquial, neste momento de partida o balanço é positivo. Aprendi muita coisa com gente boa que conheci nesta paróquia. Gente que vive a sua fé de um modo muito prático, gente disposta a dar tudo para o bem da Igreja e isto enriqueceu-me bastante. E penso que tenho também ajudado na experiência de tantas pessoas que conheci ao longo destes 2 anos.
Fiz o mestrado em psicologia, educação e recursos humanos e também ao nível da universidade tive uma experiência riquíssima porque para quem vem de um outro continente, de outra mentalidade, outra forma de viver, estar num ambiente como este aqui ajudou-me bastante e penso que também deixei alguma marca na universidade onde estudei.
P: Este mestrado e estes estudos vão agora ajudar no trabalho que vai desenvolver na Guiné-Bissau?
R: Com certeza. Eu desde que me ordenei trabalhei com jovens, estive no seminário menor e depois no seminário maior como formador e agora vou voltar. Não sei o que o senhor bispo me vai pedir, mas estou disposto, como sempre, para dar o meu contributo para o bem da Igreja na Guiné.
P: A sua história de vocação sacerdotal e de vocação cristã tem um percurso que creio irá interessar a quem nos está a ouvir porque nasce numa outra religião…
R: Eu costumo dizer às pessoas quando falo de mim: nós não nascemos cristãos, somos batizados para podermos ser cristãos, mas já para os muçulmanos o filho de um muçulmano é muçulmano. Eu nasci na religião islâmica e vivi até à idade da juventude e depois passei a ser cristão e hoje sou sacerdote. E esta experiência é enriquecedora de ter uma outra visão deste Deus que sou hoje chamado a servir nos altares.
P: Como foi essa mudança e esse conhecer Jesus Cristo?
R: É uma história muito longa e não poderia contar tudo aos ouvintes, mas poderei dizer que tive o primeiro contacto quando era adolescente. Na escola na Guiné existe a figura do professor catequista e foi ali que comecei a catequese. Depois deixei a catequese, por uma questão de conversa de adolescentes, mas mais tarde voltei a receber um convite para voltar a ir a uma missa numa Igreja dedicada a São José e foi lá que senti esta chamada para entrar e conhecer Jesus. Entrei na catequese, fui batizado, fiz o crisma e senti o chamamento para ir para o seminário e lá me formei e hoje estou a trabalhar para o bem da Igreja
P: Há quantos anos é que foi a sua ordenação?
R: Por acaso celebrei o aniversário da minha ordenação há dias. Ordenei-me no dia 12 de outubro de 2002 e foi exatamente na data que corresponde à data em que eu nasci. Tenho 16 anos de sacerdócio e vivo humildemente sempre procurando compreender melhor esse Jesus que me chamou a servi-lo.
P: E na Guiné o que é ser cristão católico?
R: Ser cristão católico na Guiné é uma experiência muito boa e muito edificante. Se olharmos para o mosaico em termos religiosos na Guiné podemos notar que temos cerca de 36% da nossa população que é muçulmana e temos os católicos e evangélicos que são cerca de 17% a 20%. E temos todo o resto que é a grande maioria que ainda está na religião tradicional africana. Portanto, ser cristão na Guiné é não só uma graça e uma alegria, mas é uma responsabilidade de dar um testemunho de fé nas ações, nas práticas diárias.
O padre Keylândio Jaquité voltará a estar na nossa companhia na rubrica da próxima semana de “Sal da Terra, Luz do Mundo”, na 2ª parte desta entrevista que nos concedeu no culminar da sua experiência de estudo e de trabalho pastoral na diocese do Porto. Regressa em breve à Guiné-Bissau e aproveitamos esta oportunidade para enviar a todos os guineenses e a todos aqueles que nos ouvem no continente africano uma saudação muito amiga.
Laudetur Iesus Christus
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