Tempo Pascal ¨C celebra??o ¨²nica at¨¦ Pentecostes
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
O tempo da Páscoa, que dura 50 dias (sete vezes sete dias), é o Pentecostes, que não é apenas o último dia, mas todos os 50 dias, afirmava o monge beneditino alemão Odon Casel.¹
Mas, qual o significado da Oitava e do tempo de Páscoa? Este inclui, em primeiro lugar, o Domingo de Páscoa com os sete dias seguintes (que culminam no Domingo in Albis, chamado hoje da Divina Misericórdia) e continua por mais 40 dias até a Ascensão, para terminar no 50° dia com Pentecostes.
Desde o século III, os cristãos começaram a estender algumas festividades para além do seu próprio dia. Assim, as alegres celebrações da Páscoa eram prolongadas e duravam pelo menos oito dias inteiros. Os cristãos sentiam cada dia da Oitava como se fosse o Domingo de Páscoa. Esta tradição foi preservada quer no rito romano como em vários ritos orientais.
Durante a Oitava da Páscoa não era realizado nenhum trabalho, era uma celebração contínua. Os neófitos, batizados pelo Papa na Vigília Pascal, deviam participar da Missa e receber a Sagrada Comunhão todas as manhãs em uma igreja diferente em Roma. À noite iam a São João de Latrão para o ofício das Vésperas, geralmente presidido pelo Papa. Os recém-batizados usavam a veste batismal durante toda a Oitava.
Estas particulares tradições batismais caíram em desuso, mas a Oitava da Páscoa continua a ser um momento de celebração para todos, um período de alegria para permanecermos ancorados na beleza da Ressurreição do Senhor. A Páscoa, de fato, é um momento de celebração comunitária, para louvar a Deus e desfrutar da companhia dos irmãos na fé.
E neste contexto da Páscoa da Ressurreição, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão ¡°Tempo Pascal ¨C celebração única até Pentecostes¡±:
¡°A Páscoa não é uma celebração qualquer, mas a celebração das celebrações, noite das noites. Para a Páscoa convergem todas as celebrações e ações eclesiais. Nós não celebramos a Páscoa. É a Páscoa que se celebra em nós. É a páscoa que vem com potência a nós, onde Deus irrompe com o seu poder e nos convida a sair de nossos Egitos, de nossas trevas, das escravidões e vícios, graças ao Redentor-Ressuscitado.
Por isso, a oitava da Páscoa é como o mesmo e único dia pascal, estendido também até Pentecostes. São 50 dias pascais, como se fosse uma única celebração em tom de aleluia, alegria, louvor, júbilo e festa. No Caderno do Concílio de número 13 ¨C publicação da CNBB para a preparação o Ano Jubilar 2025, nos aponta sobre o precioso Tempo Pascal ¨C O Ressuscitado entre nós, usando subtítulo Laetíssimum Espatium (período de grande alegria), descrevendo desta forma: ¡°Algumas festas principais do Cristianismo precisam de certo tempo para serem acolhidas e assimiladas. Na Igreja Primitiva, o mistério pascal era celebrado não só nos três dias de Tríduo, mas também nas sete semanas seguintes, conhecidas como o ¡°Tempo Pascal dos 50 dias¡±, como acorda o termo grego Pentecoste (50 dias) ¡±. E continua o texto do Dicastério para a Evangelização, afirmando que ¡°a normativa litúrgica aconselha os cristãos a celebrarem os 50 dias que se sucedem do domingo da Ressurreição até o domingo de Pentecostes ¡°com alegria e exultação, como um único dia de festa, aliás como grande domingo em que a Igreja se alegra, com o cântico de Aleluia, pela vitória do Senhor sobre a morte e pela vida nova que a participação no mistério Pascal fez germinar nos fiéis. Não é por acaso que os domingos desse período não se chamam ¡°Domingos depois da Páscoa¡±, mas sim domingos ¡°da Páscoa¡±, que com seu conteúdo mistérico se expande nesse tempo repleto de presença do Ressuscitado. É precisamente essa presença que faz com que o período Pascal seja considerado como Laetíssimum Espatium (período de grande alegria), expressão cara a Tertuliano, período habitado por imensa e intensa alegria pela promessa mantida pelo Senhor: ¡°Eu estou convosco todos os dias até o fim dos tempos¡±(Mt 28,20)².
No agora de nossa vida, o Kairós do hoje (termo grego que significa o momento presente da ação da graça de Deus), a Páscoa vem para ser celebrada em nós com uma dimensão totalmente transformadora, criativa e nova. O movimento da revelação de Deus não é ascendente, mas descendente. A Páscoa também. Cristo quem desce, quem mergulha em nossa história e vem realizar Páscoa conosco, irrompendo com seu amor ofertante. A festa pascal é o lugar onde tudo converge e a fonte da qual tudo emana. Todo o culto cristão não é nada mais que uma celebração continuada da Páscoa. Como o sol, que não cessa de levantar-se sobre a terra, atrai para sua órbita todos os astros, a noite da Páscoa é rodeada por todas as eucaristias que continuamente e diariamente, a cada minuto, são celebradas em toda a terra, porque participam da Páscoa, assim como participam todos os sacramentos, sacramentais e gestos litúrgicos. As variadas ações eclesiais são tudo pequenas celebrações e desdobramentos da grande Páscoa, do esplendor do Mistério Pascal. Somos todos filhos desta Igreja que redescobriu o valor e o sentido da Páscoa. Em outras palavras, somos filhos da Páscoa, filhos no Filho, pelo mergulho batismal gestado na Vigília Pascal. O movimento litúrgico, bíblico e toda a renovação conciliar trouxeram esse dinamismo a Páscoa, para colocar em movimento a história e o mundo todo nessa dinâmica salvífica. Na Páscoa, todas as coisas são renovadas e recapituladas em Cristo, como afirma São Paulo. A Páscoa é a chave de toda a interpretação bíblica, de toda a interpretação sacramental, de toda teologia de nossa Igreja Católica.
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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¹Casel (Odon), La Fête de Pâques dans l'Eglise des Pères, 1964.
²Cadernos do Concilio 13 ¨C Jubileu 2025 ¨C Os tempos fortes do Ano Litúrgico ¨C Edições CNBB, 2023, p. 29-30.
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