Cardeal João Braz de Aviz fala a futuros formadores
Pope
No +ultimo da dia 27 de abril, o Centro San Pietro Favre para os Formadores ao Sacerdócio e à Vida Consagrada, que prepara futuros formadores e formadoras de diversas partes do mundo, recebeu a visita do cardeal João Braz de Aviz, que falou aos jovens sacerdotes, religiosas e religiosos deste centro sobre “A formação inicial e permanente (contínua) na Vida Consagrada hoje”.
O encontro aconteceu na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, à qual pertence o Centro Favre, fundado em 1996 a pedido da Santa Sé, para atender à necessidade de oferecer uma adequada e sólida formação àqueles e àquelas escolhidos para prestar esse serviço às dioceses e congregações religiosas. Hoje o Centro conta com pouco mais de 100 estudantes, divididos entre o ano único do “Diploma” e o primeiro ou segundo ano de “Licenza” (mestrado) em Teologia, com especialização em formação vocacional. Atualmente, este centro é dirigido pelo padre jesuíta brasileiro Adelson Araújo dos Santos, ele também um ex-aluno do Centro Favre.
Após ter sido acolhido oficialmente pelo reitor da P.U.G., P. Nuno Gonçalves, Dom João iniciou a sua conferência recordando o apelo lançado pelo Papa Francisco em 2015, no Ano da Vida Consagrada, a que os consagrados e consagradas despertem e iluminem o mundo com o seu testemunho profético e contracorrente, de modo alegre corajoso, como mulheres e homens de comunhão com Deus, construtores de fraternidade, especialmente para com os mais pobres.
Em seguida, dom João destacou que a formação (inicial e permanente) é o grande desafio do momento para a vida consagrada, pois é nela que recebemos e damos tudo o que tem a ver não só com o futuro da vida consagrada, mas também o presente, pois, "sem uma formação adequada e atenta ao momento presente que vivemos, torna-se impossível, evangelicamente falando, uma vida consagrada significativa", enfatizou.
Para o cardeal brasileiro, hoje a novidade mais importante está presente na maneira de viver o processo formativo, que “não pode consistir principalmente na aquisição de conhecimentos, por mais importantes que sejam, mas sobretudo na identificação com Cristo”. Isto faz com que o modelo de formação deixe de ser estático e passe a ser um processo dinâmico que dura toda a vida. Por isso, explicou aos estudantes, “a formação é chamada a atingir a profundidade da pessoa e da sua totalidade, para que se realize a unidade de todas as dimensões da vida em Cristo, a fim de evitar qualquer fragmentação da personalidade”.
Falando de algumas falhas no processo formativo que precisam ser superadas, dom João destacou que, em relação à formação inicial, ainda existe alguma confusão entre as diferentes etapas e falta de clareza nos objetivos específicos de cada uma delas, o que impossibilita a concretização uma verdadeira avaliação de cada etapa da formação inicial. Além disso, a pressa excessiva motivada pela necessidade de "trabalho" para manter as obras do Instituto, muitas vezes não considera o amadurecimento progressivo, fazendo com que se queimem etapas de formação, que deve ser entendida como um processo evolutivo, que passa por todos os graus de maturidade pessoal. Por outro lado, na formação permanente ou contínua, muitas vezes não se distinguem as várias etapas de amadurecimento que a pessoa consagrada atravessa, oferecendo-se muitas vezes um mesmo programa de formação a todos, sem a necessária personalização.
Recordando mais uma vez as palavras do Papa Francisco, que costuma dizer que o trabalho de formação é um “trabalho artesanal”, o cardeal Braz de Aviz concluiu a sua exposição elencando alguns elementos que se devem ter presentes na missão dos formadores:
Que a seleção e o discernimento dos candidatos à vida consagrada não se deixem condicionar pelos números ou pela eficácia da pastoral (vocacional). Pois, "no atual contexto de diminuição do número de membros dos Institutos, a tentação é receber o primeiro que bater à porta. É preciso constatar com tristeza que muitas vezes falta um discernimento preciso, o que significa que alguns que abraçam a vida consagrada o fazem sem uma motivação vocacional autêntica, criando muitos problemas na vida comunitária".
Dom João insistiu que no discernimento se dê uma atenção particular a tudo o que envolve a dimensão humana e, particularmente, a dimensão afetiva e sexual. Pois, diante dos tristes casos de abusos sexuais dentro da Igreja, há de se considerar que "uma sexualidade doentia e corrupta, incompatível com a vida humana, cristã e consagrada" acaba por causar tantas "injustiças, destruição e sofrimento nas vítimas e nas suas famílias e de grande escândalo dentro e fora da Igreja".
É preciso um acompanhamento personalizado e adequado daqueles que se encontram em processo de formação, não só na formação inicial, mas também ao longo da vida. Pois, ainda que o sujeito em formação seja o primeiro responsável pela própria formação, a vida consagrada deve garantir um acompanhamento. Contudo, "muitas vezes a formação é deixada sozinha com todos os riscos e lacunas que isso acarreta".
Finalizando, dom João destacou a importância de que os formadores sejam bem selecionados preparados para essa missão e serviço tão importante para a Igreja e a vida consagrada:
“O formador deve ser uma pessoa centrada em sua vocação, para mostrar a beleza da sequela Christi em um carisma específico; ter uma preparação adequada e estar presente, com muita delicadeza, na vida dos formandos. Notamos que muitas vezes os formadores improvisam ou são nomeados formadores em crise, o que tem repercussões óbvias no acompanhamento dos jovens. A formação de formadores que lhes permita cumprir tão delicadas tarefas continua a ser um verdadeiro desafio para a vida consagrada”.
Ao final do encontro, dois estudantes brasileiros do Centro Favre, Helena Marques Pimenta (passionista) e Gabriel Battistella (escalabriniano), agradeceram em nome do grupo a Dom João pela sua presença e orientações dadas a estes futuros formadores.
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