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Encontro do Papa com a popula??o em Puerto Maldonado Encontro do Papa com a popula??o em Puerto Maldonado 

Papa: viol¨ºncia contra as mulheres n?o pode ser vista como normal

N?o posso deixar de fazer men??o de Maria, jovem mulher que vivia numa aldeia remota, perdida, considerada tamb¨¦m por muitos como ?terra de ningu¨¦m?, disse o Santo Padre.

Cidade do Vaticano

¡°Onde há mãe, família e comunidade, os problemas poderão não desaparecer, mas certamente encontra-se força para os enfrentar de maneira diferente. Foi o que disse o Papa em Puerto Maldonado esta sexta-feira (19/01) no encontro com a comunidade local, realizado no Instituto Jorge Basadre ¨C no grande campo do Instituto Público de Educação Superior Tecnológico ¨C, no segundo compromisso de Francisco em terras peruanas.

Gerar uma cultura do encontro

Já no início de seu discurso, o Santo Padre destacou a proveniência dos presentes, não só das várias regiões desta Amazônia peruana, mas também dos Andes e de outros países vizinhos, acrescentando a importância destes momentos em que ¡°podemos encontrar-nos e, ¡°independente da proveniência, encorajar-nos a gerar uma cultura do encontro que nos renova na esperança¡±, afirmou.

Terra esquecida, ferida e marginalizada

Aludindo à experiência contada por Arturo e Margarita, que falaram de uma terra esquecida, ferida e marginalizada, Francisco endossou as palavras deles, de que aquele lugar não era terra de ninguém. ¡°Esta terra tem nomes, tem rostos: tem-vos¡±, disse.

A região é designada com o nome muito belo de ¡°Madre de Dios¡± (Mãe de Deus). Não posso deixar de fazer menção de Maria, jovem mulher que vivia numa aldeia remota, perdida, considerada também por muitos como «terra de ninguém». Lá recebeu Ela a saudação e o convite maior que uma pessoa possa experimentar: ser a Mãe de Deus; há alegrias que só as podem escutar os pequeninos,¡± acrescentou.

¡°Vós tendes em Maria, não só uma testemunha para quem olhar, mas uma Mãe e, onde houver uma mãe, não existe esse mal terrível de sentir que não pertencemos a ninguém, esse sentimento que nasce quando começa a desaparecer a certeza de pertencer a uma família, a um povo, a uma terra, ao nosso Deus. Queridos irmãos, a primeira coisa que gostaria de vos transmitir ¨C e quero fazê-lo com força ¨C é: esta não é uma terra órfã, é a terra da Mãe! E, se há uma mãe, há filhos, há família, há comunidade.¡±

Esta terra não é órfã

¡°É triste constatar que há alguns que querem apagar esta certeza e tornar a Madre de Dios uma terra anônima, sem filhos, uma terra infecunda. Um lugar que se deixe facilmente vender e explorar. Por isso, faz-nos bem repetir nas nossas casas, nas comunidades, no mais fundo do coração de cada um: esta não é uma terra órfã! Tem uma Mãe!¡±, disse ainda.

Francisco referiu-se mais uma vez à cultura do descarte, explicitando de que se trata:

¡°Uma cultura que não se contenta apenas com excluir, mas que cresceu silenciando, ignorando e rejeitando tudo o que não serve aos seus interesses; parece que o consumismo alienante de alguns não consegue perceber a dimensão do sofrimento sufocante de outros. É uma cultura anônima, sem laços, nem rostos. Uma cultura sem mãe, que só quer consumir.¡±

¡°A terra é tratada dentro desta lógica, acrescentou. As florestas, os rios e as torrentes são aproveitados, utilizados até ao último recurso, e depois deixados como baldios e inúteis. As próprias pessoas são tratadas com esta lógica: são usadas até ao exaurimento e depois deixadas como ¡®inúteis¡¯.¡±

É triste constatar como, nesta terra que está sob a proteção da Mãe de Deus, muitas mulheres sejam tão desvalorizadas, desprezadas e sujeitas a violências sem fim, disse o Pontífice tendo pouco antes afirmado que estamos habituados a usar a expressão ¡°tráfico de pessoas¡±, mas que, na realidade, deveríamos falar de escravatura.

¡°Não se pode ¡®olhar como normal¡¯ a violência contra as mulheres, mantendo uma cultura machista que não aceita o papel de protagonista da mulher nas nossas comunidades. Não nos é lícito virar a cara para o outro lado e deixar que tantas mulheres, especialmente adolescentes, sejam ¡®espezinhadas¡¯ na sua dignidade."

Teto, trabalho e terra

Recordou ainda que várias pessoas emigraram para a Amazônia à procura de teto, terra e trabalho. ¡°Vieram à procura dum futuro melhor para elas mesmas e sua família. Abandonaram a sua vida humilde, pobre, mas digna. Muitas delas, com a promessa de que certos trabalhos poriam termo a situações precárias, basearam-se no brilho promissor da extração do ouro. Mas o ouro pode-se tornar num falso deus, que pretende sacrifícios humanos.¡±

¡°Os falsos deuses, os ídolos da avareza, do dinheiro, do poder corrompem tudo. Corrompem a pessoa e as instituições; e destroem também a floresta¡±, acrescentou.

Francisco deixou aos presentes uma veemente exortação:

¡°Encorajo-vos a continuar a organizar-vos em movimentos e comunidades de todos os tipos, para procurar superar estas situações; e também a organizar-vos, a partir da fé, como comunidades eclesiais que vivem ao redor da pessoa de Jesus.¡±

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19 janeiro 2018, 18:28