Save the children: mais investimentos em iniciativas para acabar com o casamento infantil
Antonella Palermo – Pope
No décimo Dia Internacional da Menina, proclamado pela ONU, ressoa a preocupação da organização Save the Children, que observa um aumento de 20% nos casamentos infantis em zonas de conflito. De acordo com dados da Save the Children, oito dos dez países com as maiores taxas de casamento infantil estão passando por crises humanitárias - incluindo conflitos e desastres climáticos - que perturbam a educação, tornam mais difícil encontrar trabalho, aumentam os custos dos alimentos e a pobreza e enfraquecem as redes de segurança que mantêm as crianças a salvo da violência. Nestes contextos, é uma dramática crença comum que o casamento em uma idade muito jovem seria uma forma de reduzir a pressão financeira sobre as famílias ou de proteger as meninas de outras formas de violência baseada no gênero. Hoje, a triste realidade, é de que há quase 90 milhões - ou 1 em cada 5 globalmente - de meninas e adolescentes entre 10 e 17 anos de idade vivendo em zonas de conflito com impactos devastadores - a organização denuncia - em seu bem-estar físico e mental e oportunidades futuras.
As mulheres raramente contam seus dramas
Em 2021, o risco da violência de gênero foi classificado como grave ou extremo em 95 por cento das crises humanitárias. Entretanto, as ações para enfrentá-la receberam menos financiamento do que qualquer outra forma de proteção oferecida como parte das respostas humanitárias. Os objetivos de financiamento são raramente atingidos, com pedidos muitas vezes muito baixos, porque apenas ocasionalmente as mulheres e meninas são incluídas em discussões sobre suas necessidades ou abordadas de uma forma que elas se sentem confortáveis em participar.
O triste recorde da Nigéria
A Ásia Oriental, o Pacífico, a América Latina e Caribe, assim como o Sudeste asiático são as regiões onde as meninas correm o maior risco de casamento infantil relacionado ao conflito. Porém na África Ocidental e Central encontram-se as taxas mais altas no mundo. A Nigéria é o país que atualmente tem o maior número de casamentos infantis, apesar de uma lei que os proíbe.
A situação no Curdistão iraquiano e no Sudão do Sul
Entre 2020 e 2021, Save the Children realizou mais de 600 entrevistas com 139 meninas no Curdistão iraquiano e no Sudão do Sul para conhecer suas experiências. Algumas foram sequestradas e forçados a se casar cedo, outras sucumbiram à pressão familiar ou se casaram como resultado de uma gravidez não planejada. Para algumas meninas curdas, a decisão de se casar foi influenciada por uma sensação de isolamento e um futuro incerto. Em suas histórias, porém, está sempre presente a exposição à violência e às regras patriarcais que causam desigualdade de gênero de fato através da restrição de escolhas.
Recomendações aos governos para prevenir este flagelo
Save the Children apela para um maior financiamento e esforços para enfrentar a violência de gênero contra meninas, incluindo recursos para a proteção da criança em crises humanitárias. Especificando pedem mais investimentos no fortalecimento de iniciativas para acabar com o casamento infantil como por exemplo apoiar e financiar os desafios que elas enfrentam, através do fortalecimento de movimentos liderados por elas. Mais pesquisas para entender melhor como evitar que os chamados "quatro C" (Covids, conflito, mudança climática e aumento do custo de vida) revertam o progresso feito para acabar com o casamento infantil. Por fim, assegurar que os governos cumpram suas promessas às meninas em suas leis e acordos globais, tais como a Convenção sobre os Direitos da Criança, as Metas de Desenvolvimento Sustentável e Generation Equality Global Acceleration Plan.
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